Recomeços
Recentemente uma pessoa me procurou por um grande acaso, pra falar sobre um assunto que de certa forma eu domino com "experiência".
Eu tenho depressão há uns 14 anos e depois de perceber quanto tempo fiquei sem tratamento, tive que correr atrás do prejuízo. Lembro que antes, quando comecei a me tratar, eu via ela como uma vilã da minha vida; algo que me maltratava e que não tão cedo poderia sair de mim, nem ao menos com remédios isso ficava melhor, os sintomas não sumiam e eu me sentia mais impotente e incapaz. Entretanto, depois da crise que eu tive em 2018 (que fez mudar por completo a minha vida), eu enxerguei a depressão com outros olhos.
O pessoal de vez em quando tem uns ditados interessantes de que a pessoa muda "da água pro vinho", e comigo foi mais ou menos assim. Eu não gostaria de retratar tudo o que passei aqui, pra dizer que hoje eu to bem melhor. O que quero enfatizar é que: Muitas das vezes é preciso acontecer algo muito ruim pra que a nossa vida melhore, ou para que a gente mude de direção e procure um local que nos faça bem, situações que nos façam sentir-se mais confortável.
Foi isso que aconteceu com o meu amigo nos últimos meses. Foi isso que aconteceu comigo nessas últimas duas semanas. O meu caso não foi bem relacionado a doença, mas teve dor, de ambos os lados. Quando a gente tenta remar contra a nossa própria maré, é um pouco sufocante, talvez com o tempo a gente se acostume com as águas turbulentas, mas em raras exceções, é quase impossível continuar nadando contra ondas que vão além da sua própria força, sua própria razão. E essas duas últimas semanas pra mim, foram enfim calmas, harmoniosas e cheias de amor.
As vezes, o recomeço que a gente tanto quer, já foi apontado um pouco lá atrás e a gente racionalmente acha que não vale a pena, que algumas poucas atitudes não vão mudar, que talvez isso seja prejudicial lá na frente e que sem nem tentar, a gente acaba desistindo. E sim, amig@s, a gente acaba se arrependendo. Parece até coisa de novela, daquelas que passam na TV, mas essa novela se passou na vida real e quase não teve como contornar a situação. Entretanto, como eu disse, existem as exceções.
O meu caso não foi nada perfeito e tá longe de ser. A Gessica (minha psicóloga atual) me deixa bem claro em todas as sessões (mesmo que ela não diga com essas palavras), que o ser humano não é perfeito. Ninguém é perfeito, a vida não é perfeita, as situações que a gente passa não são perfeitas. A moeda pode ter um valor alto de um lado e uma cara insignificante ou desanimadora do outro. Tudo tem os dois lados, ao mesmo tempo que a alegria de um pode se transformar na tristeza do outro. Eu quase abdiquei da minha felicidade para não fazer a vida de alguém triste, mas uma coisa que a Olívia (minha ex-psicóloga) me ensinou, foi a respeitar os meus sentimentos; o que eu sinto, mesmo que não importe para o outro, importa para mim e foi isso que eu fiz, abandonei alguém que gostava muito de mim porque eu não sentia o mesmo.
É incrível como as coisas doem em mim o dobro do que normalmente dói nas pessoas e eu não me orgulho disso, já perdi o controle dessa força que eu não rejo. Entretanto, eu aprendi no último mês que eu tenho mesmo que correr atrás do que me faz bem, mesmo que os outros achem o contrário.
Pois bem, caro leitor, acho que uma das coisas que eu quero deixar evidente nessa postagem é que, qualquer outra pessoa que esteja a par da sua vida ou não, vai estar dispost@ a julgar suas escolhas, vai olhar com 1001 olhos e olhares para suas atitudes e dizer que isso não condiz com o que realmente deveria acontecer. Contudo, cada um sente de uma forma, cada um vive de uma forma, cada um ama da sua forma e você quer mesmo deixar que as pessoas escolham o que você deve fazer? Você quer mesmo viver em função da opinião de pessoas que não estão sentindo suas dores, não sofrem com suas dúvidas internas, não sabem exatamente o que te faz bem?
Foi o que me perguntei a alguns dias e meses atrás. Ainda chorei por alguns dias me sentindo culpada por algo que eu sinto e me faz bem, mas que poderia fazer mal a alguém que eu não conheço e que talvez nem saiba que eu existo. E sim, eu tive reciprocidade no que diz respeito às minhas vontades e sentimentos. Quando se trata de seres humanos, as coisas são tão complicadas, não é?
Provavelmente você que me lê já deve ter passado por alguns perrengues voltados à relacionamentos, sejam eles afetivos ou quaisquer outros. Quando se está só em algo, parece que as coisas se tornam mais pesadas, mas quando estamos acompanhados, tudo se torna mais leve. E meu recomeço da vez, eu tenho a sorte graças a Deus de dizer que é acompanhada :)
Eu não sei exatamente o que vem pela frente, quanto a aceitação das pessoas, a reação delas ao que estou vivendo, mas se importa dizer, isso tem sido muito saudável na minha vida. Depois de um bom tempo sozinha, eu pude adquirir conhecimentos que hoje eu posso aplicar melhor e fazer com que as situações sejam mais bem vividas, aproveitar os momentos que me deixam bem, que me fazem sentir bem e em equilíbrio. Depois de anos na depressão, com transtorno Borderline, remédios e mais remédios, troca de médicos e psicólogos, hoje eu tenho uma chance de ser melhor, com alguém que também quer ser melhor todos os dias.
Recomeços. Ninguém escapa de recomeços, as vezes eles vem de forma dolorosa ou como uma surpresa fora de época, longe do seu aniversário ou do natal. As vezes chega sem esforço algum ou como um pedido de socorro. Recomeços são necessários para que a nossa vida saia da rotina, saia das coisas que nos fazem doer sem um motivo específico; são necessários momentos de dor para que a gente saiba o que é sossegar após a tempestade e como disse uma pessoa muito importante pra mim, "a noite é sempre mais escura antes do sol aparecer".
Abrace seus recomeços, eles tem muito a te ensinar, principalmente a valorizar o quanto a paz é importante pra você.
Assinado: Joice
Texto inspirador, obrigado.
ResponderExcluirEu espero que o tal recomeço chegue pra mim também. Eu o tenho perseguido há muito tempo e só tenho machucado a mim e a outros. Sinceramente, não sei como fazer diferente. Também não sei porque escrevo esse comentário, mas já que estou aqui queria te pedir que não parasse de escrever, porque de alguma forma te ler me faz deixar de lado a enorme amargura que tomou conta de mim na última década.
Também é bom ver que você está aprendendo. Seria bom se esse aprendizado fosse algo possível de ser passado adiante... Se fosse assim, eu teria muito a aprender com você. Infelizmente, só podemos aprender essas coisas sozinhos, e eu tenho estado completamente perdido.
Foi algo chocante e quase engraçado notar que nossa lista de diagnósticos se parece bastante, porque, ainda assim, tomamos caminhos tão diferentes... Fico feliz que o seu caminho não tenha sido o meu.
Você também parece melhor e mais feliz, ou pelo menos mais em paz, e isso quase me despertou um sorriso. Parabéns.
Eu queria terminar esse demasiadamente longo comentário (que eu espero, mas temo que seja lido) com uma pergunta que você pode responder, mas só se você quiser: do que absorvi do seu texto, você afirma ter passado por um processo catártico, no qual você finalmente passou a olhar mais para si mesma, sem se importar com julgamentos e pré-julgamentos externos. Como confio em você como alguém que entende o quão difícil é pôr isso em prática, pergunto: o que fez você girar a chave, e entender que você só precisa das suas próprias opiniões?
Oi :) Se machucar faz parte do caminho, não desista. O recomeço chega para todos, acredite! A terapia continua sendo minha grande aliada. Passei mais de 20 anos fazendo o que os outros queriam/sugeriam e em um momento de explosão, uma ex-psicóloga minha disse que eu tenho que respeitar meus sentimentos. No começo eu não entendi mas nos poucos 2 meses que passamos tendo sessões, ela me fez entender que priorizar o que sinto é o mais saudável pra mim. É MUITO difícil dizer não, principalmente pra quem você só dizia sim, entretanto pode ser o início de um caminho libertador (recomendo!). Força, não desiste que quando você menos esperar, a paz chega. Qualquer coisa, tô aqui.
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