Isolamento

Poderia ser COVID, catapora, sarampo. Mas era ela, a depressão. E com ela, o isolamento. 
Já relatei várias vezes por aqui ou pessoalmente com conhecidos, desconhecidos e amigos que além de depressão e ansiedade, eu tenho transtorno de personalidade borderline (ou simplesmente TPB). E eu ainda não sei se a depressão é só mais um diagnóstico ou ela é derivada do TPB. Mas sei que ela existe. E veio me visitar esse fim de semana.
Nunca mais eu tinha sentido tão forte como veio. Primeiro, com desconfiança. Sabe quando a gente vive tendo dias ruins ou lutas seguidas pra conseguir o que se quer e com o tempo, tudo vai dando certo e vem aquele questionamento de "quando que alguma coisa vai dar errado?". Sim, tem gente que se pergunta isso, e eu acabei "catando" motivos pra duvidar de que viver um dia feliz era possível, que ter uma "harmonia" na minha rotina era merecimento meu. E veio a autossabotagem...
"Você vai pôr tudo a perder", "você vai ser enganada de novo", "você vai ficar sozinha mais uma vez", "você vai estragar tudo mais uma vez". E eu me vi estática, gélida e formigando. A sensação era de ter uma britadeira ligada no meu peito, e ao mesmo tempo, um buraco negro enorme, que eu não conseguia medir. Nem chorar eu conseguia.
Meu primeiro impulso foi mandar mensagem pro terapeuta, mesmo que ele demorasse a ver, mas foi só chegar em casa que eu quis gritar, meu corpo involuntariamente se contraía pela sensação de dor no meu peito e enfim consegui chorar. Mas aquele pânico foi horrível. A dor parecia irremediável, mesmo que com os calmantes que eu viesse a tomar. Eu só sabia falar de dor, e dele: o isolamento.
Não sei o porquê, mas senti no meu coração que deveria falar sobre isso, algo que já me fez perder pessoas boas, as quais talvez nem saibam que eu fazia isso por medo de atingí-las. Certa vez me relacionei com um rapaz que ao sentir ansiedade, tinha necessidade de se isolar. Eu achava isso completamente anormal, porque eu sentia uma vontade contrária a dele, mas eu não podia fazer nada. Anos se passaram e mais uma vez me relacionei com alguém que em suas crises de TDAH se mostrava uma pedra de gelo, que queria ficar distante de qualquer coisa que lhe lembrasse vida, só queria se esconder e não ter contato com ninguém. 
Particularmente comecei a me achar uma anormal, porque sempre quis alguém por perto pra me abraçar ou ao menos poder ouvir "eu tô aqui pra passar isso contigo". Juntando esses fatos repetidos ao meu espírito de "autossuficiência", vi que era melhor me isolar e não mostrar meu lado vulnerável, tendo em vista que ele já tinha sido usado contra mim algumas vezes, quando alguém quis me "ajudar" em momento de crise, me fazendo companhia. 
Hoje eu tenho um namorado, ele é uma das pessoas mais lindas desse mundo. Se você, caro leitor, quiser atribuir essa beleza ao físico dele, não vou achar ruim, mas lembre que o que mais importa em alguém é sua integridade, seu caráter, e isso nele, é inquestionável. Ele é O homem. Eu tentei evitar que ele me visse mal, vulnerável, débil, em farrapos. Contudo, quase o fiz virar estatística na minha vida, distanciando ele. Conversando com minha supervisora de estágio, ela me falou algo óbvio: "se ele não quer que tu se distancie, não se distancie, mostre como tu realmente é". Como ela mesmo me disse, parece simples mas talvez não fosse, porque é algo que nos compromete. Afinal, despir-se da tentativa de dar conta do vazio imensurável que você sente, seguido de uma dor que não se sabe de onde vem, é como dizer que "fantasmas existem e eles me esfaqueiam" e se a pessoa acreditar em você, você realmente tem sorte. 
Com tudo isso, eu gostaria de dizer que sentir o que a depressão nos faz sentir, nos isola e a tendência do isolamento, é a perda de si mesmo na sua própria vida. As coisas acabam sendo um ciclo vicioso, onde você se isola pra não machucar seu próximo, mas machuca a si mesmo e quando se recupera da ressaca moral, você sente vergonha do que aconteceu e principalmente do que fez enquanto estava mal, na fossa, na sarjeta, no fundo do poço (ou no subsolo mesmo). 
Vincent, você foi muito importante pra eu perceber que, mesmo eu tentando dar bons exemplos de sobrevivência, eu estava me matando aos poucos, ao tentar distanciar todos enquanto eu fico mal, enquanto sinto dor, enquanto finjo estar tudo bem não estando. Eu te amo e te admiro.
A depressão dói, e quando as crises vêm, elas precisam ser sentidas da forma mais pacífica possível, pros danos não serem tão grandes. Dessa vez, eu consegui, mas foi por pouco. Por pouco querer me isolar me tira mais uma pessoa importante; por pouco querer me isolar me deixou marcas pra o resto de uma vida toda; por pouco querer me isolar me fez sangrar literalmente, outra vez. 
Quantas vezes, por pouco, eu quase me desfiz de todas as minhas conquistas, só por querer me mostrar sempre forte e já não suportando mais, me escondi do mundo e berrei com a boca no travesseiro?
Sobre estar deprimido e se isolar, por favor, não se isole. Dê uma chance pra alguém te ajudar. 

Assinado, Joice.

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