Eu vivo
Hoje eu vi uma postagem no instagram que dizia "Enquanto eu resistir, eu vivo".
Isso me abriu um guarda-chuva na cabeça.
Esse negócio de "abrir um guarda-chuva" é muito da minha síndrome do pensamento acelerado. Eu não consigo parar de pensar, é simplesmente toda hora vindo mil e um pensamentos seguidos na minha cabeça, e as vezes eu não consigo controlar. Só fico parada observando tudo mentalmente (porque enfim, é tudo na minha cabeça, ninguém percebe nada). E a vida acaba se resumindo a isso, de resistir.
Apesar de tantas coisas estarem acontecendo ao mesmo tempo comigo, a vida tem se resumido a isso: resistir. Resistir para tempestade passar; resistir para ter momentos felizes; resistir até as oportunidades aparecerem; resistir até as crises cessarem.
Confesso que saber que sou portadora de um transtorno de personalidade é bom e é ruim. Bom no sentido de que muita coisa que eu já vivenciei na minha trajetória se explica, que não foi uma coisa "desconhecida", tem nome e tem explicação; e é ruim porque é uma coisa que não tem cura, não é uma doença, é uma coisa que vai permanecer comigo pro resto da vida. E isso envolve tanta coisa gente, que ces não tem noção. As vezes eu me autossaboto sem nem perceber, e isso é péssimo. Meu vizinho costuma me dizer que eu sou foda, sem nem conhecer o que já passei. Acho ousado da parte dele, ou talvez não seja. Talvez pra quem tenha borderline, o mundo não seja tão claro assim como é pra quem nos vê. Mas o que eu sinto, é que constantemente eu só resisto, não vivo como gostaria.
Ultimamente eu tenho sentido dor, mas é uma dor que nem todos sentem, e tá tudo bem. Mas que quem tem algum probleminha psicológico evidente, talvez sinta. Nós, reles mortais que tomamos ansiolíticos & tarjas pretas sabemos que nem sempre eles dão conta, que a terapia as vezes é só uma muleta, que é algo momentâneo, que o mundo é um vilão. Sim, nós sentimos e sabemos que o mundo não está preparado pra NINGUÉM que tem deficiência, que convive com alguma síndrome ou transtorno mental ou de personalidade. A dor que ninguém costuma ver, porque os depressivos já sabem bem disfarçar; a dor que os "transtornados" já são acostumados a sentir, mas mesmo assim sentem e dói.
Que dor não dói? A gente só sobrevive por um tempo e é real. O que tem nos salvo disso?
Eu não sei exatamente o que tem me salvado no momento. Talvez algumas possibilidades de concurso, ou algumas previsões de quando eu vou acabar o curso de licenciatura (que sempre foi meu sonho mas eu quis agradar os outros e não a mim mesma e fiz outros cursos e perdi meu tempo[?]). Eu entro nas redes sociais e não consigo ver nada que me tranquilize, nada que me deixe mais calma ou com vontade de viver, ou que me console por ter tentado agradar minha família e a conforte por eu ter escolhido viver o meu próprio caminho. Eu nunca agrado ninguém, e mesmo quando tento me agradar, não consigo porque algo atrapalha meu percurso. Fico me perguntando se isso é justo. Mas talvez nada seja justo pra alguém que é fadado a vivenciar um transtorno; alguém que foi desejado somente pra satisfazer uma vontade e não foi nutrido de um afeto saudável, só de disciplina e deveres. No final das contas, foi assim que vivi a maior parte da vida. O que me sobrou? A vida adulta...
O que você faria com a vida adulta?
Eu tô procurando viver, mesmo que sem muito dinheiro. Mesmo que sem emprego no momento. Tô fazendo o curso que sempre quis, desde os meus 28, abdicando de algumas coisas que significariam MUITO em um futuro a médio e longo prazo, pra construir minha profissão dos sonhos. Tentei ter um pensamento visionário, não sei se fui bem sucedida nisso, mas adquiri experiência, comecei a fazer uma boa carreira. A parte difícil eu deixo no off, ou compartilho aqui kk mas sim, o magistério foi o que eu sempre quis e consegui pouco antes dos 30. E se você tem dúvida se consegue viver, apesar de todas as dificuldades e problemas psicológicos? Sim, você consegue. Vai ter alguém pra ficar do seu lado, seja um vizinho ou um professor da faculdade, ou um diretor de escola, como foi o meu caso. Pode ser que eles não estejam ali pra sempre com você, mas em algum momento eles deixaram uma frase marcante, lhe deram uma oportunidade única que você marcou mais 40 vidas e isso já ajuda bastante.
Nunca esqueça que se sua família não te ajuda, o mundo tá aí pra isso, porque você é importante. Sua vida importa, mesmo que você pense que não. Em algum instante, alguma criança ou adolescente vai ser impactado pela sua experiência positiva no mundo e ele vai ver que não tá sozinho, que o sonho dele faz sentido. Eu por exemplo, vejo a maioria dos meus colegas de ensino médio se dando bem, seja em profissão ou formando família, e eu não tenho nem um, nem outro, mas continuo viva. Eu vivo! E enquanto eu resisto a tantos problemas e adversidades, as possibilidades podem surgir. O que importa, é persistir no que faz sentido pra você. Lembra que a vida é sua, por favor.
E por mais que eu já tenha tido vontade de desistir, não desista. Aproveite sua oportunidade.
Viva. E qualquer coisa, me manda um e-mail ;) Não desista do seu sonho, porque apesar de tudo (tudo mesmo), eu não desisti do meu.
Assinado, Joice.
🖤 Você conseguiu colocar em palavras coisas que nunca consegui.
ResponderExcluirEu sei que a dor não vai passar, mas espero que diminua e se torne suportável.
Obrigado por continuar aqui, transformando vidas! 🫂