Destruída

Algumas dores que sentimos não tem muita explicação, nós só temos a dádiva de senti-las o mais profundo que podemos, mesmo sem querer. Porque toda dor nos ensina alguma coisa.
As vezes acho que meus momentos de felicidade me ensinam mais do que meus momentos de tristeza, porque como border que sou, a estabilidade emocional é um sonho de consumo. Sempre me questionei porque eu não conseguia ficar muito tempo feliz, desde mais nova, na adolescência ainda. Com o diagnóstico, muita coisa ficou clara, mas o sonho de ser feliz sem saber que pode acabar daqui 1h ou 1 dia, sempre esteve no meu coração. Essa semana mesmo eu fiquei bastante alegre, me permiti muita coisa: tomar iniciativas, ser ousada, fazer ligações, rir, fazer umas piadas, mas no fim do dia meu tapete foi puxado...
E eu sei que a realidade dói, mas não pensei que um choque de realidade fosse tão grande a essa altura do campeonato, quando eu já senti tantas dores físicas. Quando a dor vem de dentro pra fora, é bem pior, o corte é mais profundo, os danos são maiores e sinceramente, eu preferia ter me machucado fisicamente, pra ver o sangue saindo de algum lugar, saber que algo concreto, que estava ali na minha frente que me machucou, que me deixou debilitada daquele jeito. Mas não foi e eu me sinto tão idiota por causa disso :/ Eu queria poder me isolar do mundo, queria me enfiar num buraco e não sair mais, sentir menos vergonha de mim, da vida que eu tenho, das minhas condições financeiras, das minhas lutas, dos meus "pequenos" sonhos, da vida que eu tenho levado, da minha deficiência de foco, mas tudo tá acontecendo exatamente ao mesmo tempo: crise de rinite, sinusite, antibióticos, corticóides, bloqueio criativo e o que poderia me deixar um pouco mais viva, só me fez afundar um pouco mais.
Me sinto tão sozinha, me sinto tão destruída, miserável, sem valor, a pior pessoa da minha vida. E eu não matei ninguém, não trafiquei, não roubei, não me prostituí. Eu só tive sentimentos!
Do fundo do meu coração, gostaria de poder fazer como arrumo minha cama antes de dormir: sacudir o lençol pra tirar toda a sujeira que tem encima, arrumar e deitar minha cabeça em paz. Mas não pode ser assim. Me sinto uma bagunça, me sinto um fracasso, me sinto enganada e acho que a culpa maior foi minha, por me dar a confiança de acreditar em possibilidades que eu nem consigo mais descrever se são possíveis, nem consigo ver, nem lembrar dos momentos bons.
As emoções tem falado mais que a química dos medicamentos e eu tenho conseguido chorar. É uma graça divina, porque se não conseguisse, minha garganta teria fechado. A dor no meu peito ainda tá aqui, meus olhos ainda marejam, ainda sinto raiva da nutrição de alguns lampejos de sonho que vivi a algumas semanas atrás e ainda me recupero da baixa imunidade. O primeiro semestre do ano sempre foi como um inferno astral, mas não me recordo a última vez que foi tão ruim como agora.
Tá doendo muito, mas eu preciso sair disso tudo, senão o fracasso vai ser pior.
Talvez aconteça um hiato nesse blog. Espero voltar com notícias boas.
E espero conseguir encontrar em mim forças pra recalcular a rota e seguir em frente.

Assinado, Joice.

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