Levantando
Dizem que o importante não é quantas vezes você cai, mas sim quantas vezes você levanta. E mais uma vez eu levantei.
Não sou o tipo de pessoa que pratica autopiedade, sei reconhecer quando erro e sei mais ainda quando devo pedir desculpas, perdão, ou quando não devo fazer nenhum dos dois.
As últimas semanas foram de adoecimento, e só Deus sabe como eu sobrevivi. Parece que toda queda de sanidade psíquica derruba minha imunidade, e se eu tiver certa, isso me deixa muito triste. Mas enquanto eu não descubro se é verdade, me recordo dos momentos de aprendizado nesse turbilhão de emoções que eu passei. Tivemos um feriado prolongado o qual eu fiquei horas e mais horas no hospital, tomando medicamentos, passando mal, tirando sangue e quase desmaiando, sem fome, com dores e sem sono. Esse tipo de situação sempre me faz ficar muito pensativa sobre mim mesma, de como eu venho levando a vida, à quem eu estou direcionando minhas energias, acabo por me avaliar como mulher, como ser humano, como amiga, como pessoa feita para dividir a vida com alguém e eu chego a várias conclusões ao mesmo tempo, a ponto de causar uma confusão dentro de tantas confirmações e afirmações.
Mas o que eu posso fazer de melhor, é reconhecer o quanto eu tenho sido forte. Por vezes eu escrevi que não aguentava mais ter que ser forte o tempo todo e convenhamos, que ser humano consegue? Eu mesma passei a semana passada toda doente kk mas como eu disse no início, não importa quantas vezes nós caímos e sim quantas vezes levantamos. Isso diz muito sobre nossa determinação, perseverança e resistência.
Ocasionalmente hoje me vi em um estado de estabilidade do meu transtorno. Consegui me olhar no espelho e ver quem eu realmente sou, enxergar a beleza que muitas pessoas dizem que eu tenho, sentir o vigor da vida dentro de mim, aquela sensação leve de que "estou viva, então vou viver, não somente existir". Infelizmente eu já sofri muito mas o amor próprio chegou em uma boa hora. Hoje eu sei o quanto eu mereço ser feliz, mesmo que amanhã nesse mesmo horário eu tenha uma opinião contrária, de que eu não presto pra ninguém, que eu não nasci pra ser feliz. NÃO, isso não é verdade. Hoje um psiquiatra que fala sobre borderline na internet respondeu minha caixinha, dizendo que existem condições características do meu transtorno que são "justificáveis" quando estamos em crise, e sei lá, ouvir aquele profissional renomado falando aquilo com convicção me deixou muito aliviada, mesmo que tenha sido uma das piores crises a que eu havia sentido.
Sentir sempre foi meu forte, talvez um super poder que nem sempre é bom, mas que já me levou para além da minha zona de conforto. O "sentir" em mim é se arrepiar facilmente ao menor sinal de uma brisa antes da chuva; é ter o olfato mais aguçado e a audição mais sensível. Sentir demais é bom e é ruim, nunca um meio termo. Ou é 8 ou 80... Sempre ouvia isso da minha mãe e nunca entendia o que ela queria dizer, hoje aos meus quase 32 anos sei que fui e as vezes ainda sou 8 ou 80, mas tudo bem, essa sou eu e vou levando como posso ser, nunca anulando que sou um ser humano que como os demais, em algum momento é falho. Isso não me impede de ser feliz.
Acho que meu maior defeito foi pensar que isso poderia me impedir de ser feliz em algum momento da vida. Atualmente eu me encontro feliz, comigo mesma, com a minha presença, com os pensamentos que eu tenho sobre a vida e com as perspectivas dos próximos acontecimentos que virão. Por mais que não pareça, comecei a perceber pessoas ao meu redor que estão sim torcendo pela minha felicidade, que se preciso eu tenho a quem pedir socorro e o melhor, pessoas que eu posso abraçar.
Por mais complexa que eu seja, essas pessoas me aceitam como eu sou e cara, são essas pessoas que estão me vendo como sou (levando como posso, agindo conforme vou sentindo e até mesmo errando) que merecem meus mais sinceros sentimentos, incluindo eu mesma :) Lembro que a umas 2 semanas atrás acordei em um dia qualquer com a vontade de dar um jeito na minha tristeza, fazer com que as crises não me afetem tanto e nesse processo, encontrei uma frase que diz:
"Se esse for seu último dia, por que não dar o melhor de mim pro mundo?"
É esse tipo de coisa que me desperta um pensar crítico de como estou agindo. A única certeza que o ser humano tem é que em algum momento, ele vai deixar de existir nesse plano terrestre. E o que vamos deixar por aqui, além de lixo e possíveis dívidas? Rancor é que eu não quero deixar. Passei a pensar que ao menos um olhar carinhoso pra mim mesma eu devo ter durante os meus dias, ver o quanto eu fui sobrevivente e resistente até aqui e que pelos exames e tantos antibióticos que tomei, ainda vou durar um bom tempo. Não é porque alguém não me desculpou que eu vou morrer, que eu vou fazer da minha paz um inferno.
Sei que com o passar dos dias a gente acaba não agradando todo mundo, mas isso não é o fim. Eu acredito piamente que as pessoas que nos amam de verdade vão ficar; independente de distância ou não, alguém vai manifestar de alguma forma seu carinho e consideração por mim, pela minha vida, pela minha (re)existência e isso é o que me ajuda a ter mais forças pra lutar todos os dias. A oportunidade e a satisfação que eu tenho de tocar positivamente a vida de alguém é o resultado de anos caminhando pelas calçadas da pequena Monsenhor Tabosa e perguntando a mim mesma "qual é minha missão nesse mundo?", "o que eu vim fazer aqui afinal?".
Nesse momento, momento de lucidez e de reconhecimento, eu entendo que minha missão pode ser qualquer uma, menos ser infeliz. Eu posso chorar por horas mas em algum momento, eu vou parar; posso me decepcionar comigo mesma ou até mesmo com alguém, mas isso não tem mais força que a minha vontade de fazer o que é certo; posso perder o que for, mas o meu lugar no mundo eu sei que posso encontrar, porque o mundo é grande e em algum lugar eu vou caber, em algum abraço eu vou me encontrar. Eu só não posso desistir. Desistir não é uma opção.
A vida é feita de escolhas, acho que ninguém nasceu pra ser uma "opção". Todo mundo merece ser lembrado pelas coisas boas que faz e praticar resiliência quando os percalços aparecerem no caminho, porque o que é ruim passa. Eu sei que sou uma pessoa boa e por isso, também sei que mereço o melhor que existir pra mim.
E escrever isso é um ato de amor que eu não esperava um dia praticar. Mas eu mereço e me permito receber tudo o que de bom eu merecer, porque minha vida é luz no mundo - se não num todo, no mundo de alguém :)
Assinado, Joice.
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