E só.

3:13 a.m.
Por alguns feixes de luz perpassando as janelas de vidro, eu sei que ainda é noite. O relógio já pouco importa, porque o sono debandou-se do meu ser, me deixando com o ócio perturbado, sem sequer vestígios de que pregarei os olhos e correrei o risco de ter algum pesadelo.
O coração resolveu bater mais forte, ao menor sinal de que existe uma vida que não posso controlar. Existe uma energia que rege o mundo, que rege os dias, a qual não posso me apoderar. É pungente, esse sentimento que não sei exatamente caracterizar. 
Diversas doutrinas procuram decifrar o que se acontece todos os dias; os fatos que muitas vezes não nos felicitam proporcionam um mar de água salgada que faz brotar de dentro de nós mesmos. Nós temos um mar íntimo e só sabemos quando uma faca penetra em nossos sentimentos abstratos, no que era segredo, no que tampouco existia para os nossos conhecidos, no que já achávamos que não nos interessava mais.
O que vós, ó força suprema, nos quer dizer quando ceifa o que por nós é adorado? O que vós, ó grande superior, tenta nos pontificar quando nossas terminações nervosas descontroladas fazem desaguar o mar sob nossa face? Já não é competente o bastante ter nossas existências sob tuas mãos? O que mais queres de nós, além do descontentamento de vivermos tantos dissabores cotidianamente, sem ao menos saber quando vão cessar? De fato, eis-me aqui com o coração pulsante, sem um motivo exato. Aos poucos caminhando; mesmo que errante, mesmo que distante de quem tenho anseio de estar, sem ao menos avistar a linha de chegada, se é que esta existe. Eis-me com um contentamento submerso em um oceano cético, que não é o de lágrimas, tateando cegamente os muros da desilusão, em busca de uma saída.
Que saída? Onde eu entrei? Onde eu estou?
Quer um (ou nenhum), parasitamos na Terra, vagando como mendigos pedindo esmolas, mas ao invés de moedas ganhamos indiferença. O que fizemos, para alimentarmos uma esperança vã de que tudo sempre acabará bem, apesar das dores?
Eu ouço os tons do piano melodicamente, aos poucos acelerando as notas, docemente como se tivessem costurando meu coração dilacerado, alimentando-me de vida e ao mesmo tempo pedindo calma, implorando que eu tenha paciência. Logo eu, pessoa que segue insana, sem esperar que o dia amanheça para escrever os devaneios de uma madrugada sem fim, esperando ter... Paciência.
Será que desta vez verei o sol se acender? Como se fosse um pincel em aquarela, molhado na água mais límpida, borrando o papel mais rude, dando cor ao que antes era a ausência dela, pintando os sentidos de nós, nos acordando de todos os medos e angústias. 
Mais uma vez, despertando sem respostas. Mais uma vez correndo contra um tempo que só vive em nossos relógios. Mais uma vez tentando, perseverando, teimando e ainda assim, tantas vezes falhando. Mais uma vez respirando o que achamos ser somente ar. Somente.

Assinado: Joice

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