Meu neném Nonel

Entre uma linha e outra que eu escrevo no arquivo do TCC, eu lembro de você. Você passou 3 anos comigo, mas na minha concepção não seria egoísmo ou orgulho meu pedir que você ficasse mais..

Você foi minha primeira experiência com uma vida e eu sabia que tinha que cuidar bem de você, não só por responsabilidade mas pelo companheirismo que nós íamos ter juntos. E tivemos muito companheirismo.

Você me mordeu algumas vezes, caiu de cima da máquina de lavar roupa e eu corri com você dentro de uma bolsa pra veterinária ver como você tava. Não gostava de brincar muito na rodinha de correr, amadureceu e não teve nenhuma namorada, consequentemente não deixou nenhum descendente. Mas deixou muito amor e saudade dentro do meu peito.

Nos últimos dias você estava tão cansado que nem sentado conseguia ficar. Meu coração ficou muito apertado por ver você daquele jeito e sabendo que em algum momento eu ia me arrepender, eu pedia pra você descansar, porque você já tava indo além do que devia. Eu via você ofegante, sem conseguir comer e te alimentei até enquanto você estava vivo. Não queria te ver indo embora ou sequer me desfazer de você, contudo você precisava ir e agora eu tenho que aceitar que minhas conquistas tem uma razão a menos.

Maurílio, eu te amo e pra sempre vou te amar, como em todas as vezes que você estava lúcido ou não eu dizia. Já quis que meu coração parasse de bater porque a vida foi injusta, cruel e hoje me pergunto o porquê do seu parar de bater, se você merecia viver mais e mais anos. Entretanto, eu sei que hamsters tem um período de vida curto, na mesma medida que sua gestação também foi curta.

Eu nunca vou te esquecer. Você me esperava voltar da faculdade, sentava no sofá comigo pra assistir e comer pipoca, ouvia meus desabafos e eu sei que sabia quando eu tava triste. Eu costumava dizer pros meus colegas que hamster não tinha sentimento mas quando eu vi que você tava envelhecendo, percebi que você tinha sentimento sim e muito, eu que não tinha sensibilidade suficiente pra ver o quanto você era sensível.

Eu não lembro de onde tirei teu apelido, mas Nonel sempre combinou contigo, assim como Maurílio. Você foi meu amor, meu vilão, minha felicidade, minha raiva, meus sustos e minha saudade. O serzinho que eu nunca esperava ter mas tive. A "pessoa" que eu mais falava pros demais, meu companheiro de casa, de convivência, que já dormiu no mesmo quarto que eu, que eu sempre me despedia antes de sair, o que eu fiz musiquinha e que ficava irritado quando eu tentava fazer cócegas na barriga (nunca vou me perdoar por você ter deixado o Edil fazer isso e não eu).

Você sempre vai ser para mim, como uma pessoa, que viveu pouco mas perpetuou-se na minha vida e vai continuar vingando no meu coração. Talvez você não se orgulhe tanto de mim, eu devia ter defendido meu TCC no semestre passado pra você comemorar comigo a conquista de tantos dias fora de casa e você ver que valeu a pena ter ficado me esperando todo fim do dia voltar da faculdade pra eu falar "oooi Maurilio Nonel", te dar uma gaiola nova e brinquedos novos :'(

Eu não sei porque vidas que significam tanto vão embora cedo, mas peço a Deus que você esteja em um ótimo lugar, com o último pedaço de biscoito que eu te dei e com a tampinha que você gostava de brincar. Agora eu sinto que nada do que eu fiz por você foi suficiente, porque sua presença aqui era o que bastava pra mim, seus bigodinhos balançando e você escondido no seu cano. Eu queria poder nunca mais pintar as paredes de casa, só pra guardar a parte que você roeu. Eu te amo pra sempre Maurílio e tudo o que eu tô escrevendo aqui é insuficiente pra demonstrar o que tô sentindo agora. Saudades demais.

Assinado, Joice