Carreira solo

O lock down segue na terra do sol, que nem é mais do sol porque tem chovido demais. Como diz uma música que eu nunca ouvi e nem pretendo, "são as águas de março fechando o verão" e o que se pode fazer é aceitar. O lock down e a chuva. Enfim eu me formo semana que vem, não da maneira que eu esperava, com direito a beca e capelo, aglomerado de pessoas em frente ao local de confraternização pra tirar fotos com os colegas e professores presentes. É tudo online. A vida tem se tornado online mais do que deveria, ou como previam os nossos antepassados.
Meu companheiro de pandemia e eu já não temos o mesmo relacionamento que tínhamos no começo e claro, eu não acho tão estranho assim. Entretanto eu observo tudo ao meu redor e o que acontece entre nós também, se vai prosperar ou não, se temos respeito um com o outro como tínhamos antes e os planos pro futuro, que pra mim importam, já que não sabemos que rumo a vida vai tomar no pós-pandemia (o qual ainda não sabemos quando vai ocorrer, mas vai, uma hora vai...). Vejo que ora estamos perto, ora estamos distantes, tipo um casal que já tem um relacionamento de longas datas, mas que não completou nem 1 ano ainda. Parece o estilo JK, 50 anos em 5, o que eu não sei se seria uma vantagem entre nós. Ambos temos cargas pesadas que adquirimos no decorrer da vida, as quais não são iguais. Ele sempre teve possibilidades a mais que eu, as quais eu gostaria de ter, como aproveitar a inteligência para trabalhar mais e alcançar mais sucesso dentro da ciência, na melhoria da vida das pessoas; poder planejar viagens e seus resultados dentro da minha vida, ter mais momentos que me enriquecessem e a liberdade que eu não pude ter durante 25 anos da minha vida. Eu sei que ele não lê mais o que eu escrevo aqui, mas se um dia lesse, saberia que ele teve mais oportunidades que eu e que em algum momento das oportunidades que eu tive, ele gostaria de estar no meu lugar (nunca se sabe).
Enfim... eu sempre me enxerguei sozinha em qualquer atitude que eu tomasse na vida, fosse no meu presente ou no meu futuro. Do meu presente eu posso contar pouco, porque ele é regado a remédios, instabilidade no sono, um pouco de tristeza pra temperar o sono diário, assistir o jornal toda 6h da manhã e evitar a chuva porque sempre tive esse problema de falta de contato que ocasiona imediatamente resfriado ou gripe. Se alguém me vê gripada por aí, já é praticamente sinônimo de covid então prefiro evitar, inclusive sair.
Sair não é mais algo que me deixe a vontade, nem mesmo pro supermercado ou farmácia. Ainda bem que a farmácia aderiu o delivery também, eu pouco sei o que NÃO tem em delivery em Fortaleza, porque tudo tem funcionado assim. As entrevistas de emprego são por chamadas de vídeo do Whatsapp, a convivência familiar muitas vezes fica fadada, entediante. Enquanto o Edil passa o dia jogando (já que ele saiu do trabalho por problemas psicológicos), eu fico lendo algum livro, estudando, assistindo um filme ou um vídeo de terror, que no final das contas não é terror pra mim, é sempre um suspense com maior ou menor nível. Não tivemos mais nenhum encontro com amigos, nem saída alguma. Aliás, eu só saí 1x com o Edil e pra uma cafeteria que não está mais aberta no momento. Nós, brasileiros, qualquer pessoa, que esteja ou não passando fome, não sabemos quando isso  vai acabar. Mas quando acabar, eu não sei o que vou fazer.
Não sei se sumo, ou se ando por aí sem destino pelas ruas de Fortaleza comemorando a vacina tomada e ainda usando máscara. Não sei se invisto mais na minha escrita, lendo sempre um pouco mais (já que agora eu tenho um kindle, por causa do meu pai! Obrigada pai). Ainda acredito que lê amplia os horizontes das pessoas. Gostaria de continuar trabalhando no laboratório da faculdade e tenho até tentado. Almejo um mestrado mas não sei ainda em qual instituição, mas o que eu quero mesmo é me formar em licenciatura, pra ser professora, seja lá de que série for, mas que seja em geografia :)
Não sei se meu relacionamento com o Edil vai ter futuro, já que ele e eu temos pensamentos diferentes quanto a planejamento. Sinto ele sempre aéreo e se deixando levar pelo que a vida o causa, pelos momentos em que ele está na vida, sejam eles altos ou baixos, ele vai seguindo isso, ficando algumas vezes triste ou excêntrico jogando algum jogo online com os amigos. Eu espero sinceramente poder ressignificar minha vida em qualquer situação adversa que não esteja nos meus planos, não me deixar levar por um momento ruim porque eu já vivi muito isso, já vivi muito a vida de pessoas que no final talvez não se importassem tanto comigo como eu me importava com elas. É péssimo ser comandado ou manipulado por alguém, principalmente porque isso te vicia e acaba que não sabemos tomar decisões sozinhos. Eu quero isso pra minha vida e não sei onde isso vai levar, mas planejamento serve pra isso, pra você trabalhar sob o que planejou e alcançar o que enfim está escrito pra ser um possível resultado.
Isso que muitas vezes me faz pensar em ser sozinha. Então, desde já eu peço desculpas ao Edil, ao homem que eu amo, à pessoa que eu gostei desde o primeiro "oi" e que eu pensava em ter uma vida feliz e de longevidade, pra viajar aos Estados Unidos ou qualquer outro lugar, pra eu conhecer a neve, pra eu conhecer o Canadá, pra quem sabe poder ir ao Japão ou até Machu Picchu. Coisas que com casal seria muito legal fazer, mas se não houver casal, eu não posso desistir da minha felicidade, não é mesmo?
Tem sido difícil demais pensar em momentos felizes quando se tem pessoas sem casa, sem comida, sem dinheiro pra se sustentar nessa pandemia, nesse caos sanitário, nesse país sem governante, sendo uma chacota pro mundo inteiro. Eu sempre tenho meus pensamentos positivos e por mais que eu não pegue um terço e comece a rezar ave marias e pai nossos, eu sempre penso em Deus e peço que Ele tome conta de tudo, pra que isso tudo acabe logo, que eu não me deixe seguir por falsos profetas e que esse negócio de oráculo não tenha tanto cabimento. Gostaria de coisas mais diretas, pra não me sentir perdendo tempo na vida; gostaria de permanecer na academia construindo uma vida de mestre, professora, me sentir realizada por estudar cada vez mais e repassar tudo o que aprendi e continuar aprendendo pelo simples fato de sentir prazer em ensinar. O mundo precisa saber mais sobre a ciência, é a ciência que nos salva, que nos faz conhecer cada pedaço do mundo e de nós mesmos. E eu acredito que a ciência pode me salvar de tantas incertezas que eu sinto agora.

Assinado, Joice.

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