Depois de um tempo...
Eu ia escrever uma carta íntima pro meu TCC mas desisti, ele não merecia minha sensibilidade, principalmente depois que eu descobri que tudo era questão minha de ser, seja uma pessoa comprometida com minhas responsabilidades ou machucada com os prazos que eu mesma não estava cumprindo.
Já se passou mais de 1 mês do dia 05/02/2021, o dia que defendi meu TCC e confesso que não foi uma das melhores pesquisas que eu pude fazer, mas para o momento foi o que pude fazer de melhor. Isso garantiu que eu pudesse vencer mais uma etapa da minha vida. Depois disso, eu nem sei exatamente que fase na minha vida começou, mas sei que até agora me sinto nessa.
Depois de um tempo eu vi que o que pra mim tinha sido algo bombástico e que me causava ataques de ansiedade, depressão e pânico, passou e eu senti um vazio na minha vida. Infelizmente, parece que eu trabalho bem melhor sob pressão, não que eu não trabalhe por vontade própria mas é que eu cresci assim, na pressão da minha mãe, dos professores, das pessoas que contratavam meus serviços, das metas que eu tinha que bater pra ganhar 1 salário completo no fim do mês e até mesmo de aturar reclamação de tudo e todos pra poder sustentar alguém que eu poderia me tornar no futuro. Parece que o futuro chegou e além de estar quase formada, eu me encontro desempregada, sem dinheiro, morando com meu namorado, me sentindo distante sentimentalmente e tentando distinguir o que tá acontecendo ao meu redor pra não tomar nenhuma decisão precipitada.
Depois de um tempo você descobre que além das pessoas que nasceram em 2012 vão fazer 19 anos esse ano, eu tô beirando os 30 e o que eu consegui até agora? Só formações, nenhuma experiência a não ser as já citadas no currículo que vem montado desde que eu saí de Monsenhor Tabosa. Ainda fico me perguntando se minha alma nômade está viva dentro de mim, fico pensando em ir embora sem lugar específico. Ao mesmo tempo que penso em ir, lembro do que eu já tenho aqui, como a Ártemis. Consequentemente eu lembro do Maurílio, que não viveu a tempo de me ver formando, gostaria que ele estivesse aqui pra aparecer comigo na vídeo chamada de formatura. Saudades.
Eu sinto saudade de coisas simples, ao mesmo tempo que o que deveria me fazer falta no momento não me faz falta, como a proximidade ou o carinho das pessoas, do meu namorado, da minha família. Parece mesmo que o que eu tô nesse momento é sozinha, ou que eu gostaria de estar sozinha, mas não sei exatamente pra quê. Sempre achei que sozinha eu pensava melhor, me reorganizava melhor, contudo eu vejo que não depende só disso, preciso me planejar e agir, mas com essa pandemia e isolamento social (vulgo lock down), é difícil conseguir dinheiro, um trabalho que eu possa juntar algo no meu porquinho pra poder agir quando a situação sanitária melhorar. No momento quem me ajuda é minha mãe e desde já deixo meu agradecimento à ela aqui: mãe, se não fosse pela senhora eu nem estaria pensando em continuar aqui.
Tirei esse 1 mês parada pra ir a médicos e mais médicos, fazer exame, ir à nutricionista, descobri que tô com anemia (sempre né) e vou ao hematologista essa semana, quem sabe assim descubra o que tá acontecendo com meu sangue. Tenho um artigo pra fazer com os dados que coletei do TCC, mas tá me faltando impulso. Alguns colegas vão tentar mestrado pra UFC, eu ainda tô meio baqueada das consequências psicológicas do TCC. No final do ano a UECE me aguarda novamente... Depois de um tempo...
Por enquanto, eu vivo com o coração cheio de dúvidas, com um pouco de insensibilidade, sendo movida pelo que vai acontecendo um dia após o outro; as vezes furando a dieta, as vezes pensando em não comer mais nada pra ver se consigo emagrecer; passeando com a Ártemis pra ela fazer as necessidades dela lá embaixo e ela vem aprendendo. fazendo as tarefas mais pesadas de casa, mesmo tendo dividido tudo o que se tem pra fazer por 2; sem vontade de jogar algo novo porque tudo que de novo aparece meu computador não suporta ou meu joystick não funciona direito.
Acho que me falta expectativa de vida, sendo bem sincera. Conversei com minha psi e ela me perguntou "O que você deseja?". Achei no primeiro momento que ter expectativa de que algo acontecesse era errado, porque a primeira vista você entende que ter expectativas é se frustrar com a outra pessoa. Entretanto, ela me explicou que saber o que você deseja lhe ajuda a ter expectativas de que algo aconteça e você trazer isso pra sua vida, tipo "o que eu devo fazer pra que isso que eu desejo se concretize?" e assim então mudar meu conceito de cotidiano, de agir, de amar, de tratar as pessoas ou ver as coisas com outros olhos, como olhar positivo. E pensando por esse lado, ela tá certa. A gente tem que ter em mente o que a gente deseja, pra poder agir de acordo com o que você quer que se realize e não espelhar em alguém o que você almeja. O outro não tem porque suprir suas expectativas mas sim você mesmo; se o outro não faz nada, o problema é dele e não seu, sua mente fica tranquila.
Desde esse pensamento, eu venho refletindo todos os dias sobre o que fazer quanto a minha vida, minha necessidade de dinheiro, minha neutralidade, minha estabilidade emocional e psicológica e também sobre a falta de vontade de estar próximo de qualquer pessoa. A pandemia tem me assustado, é difícil sair de casa sem sentir medo; o sono as vezes fica desregulado, aparece mais cedo e acordo mais cedo ou aparece mais tarde e acordo mais cedo, ou com remédio durmo e acordo bem mais tarde. Descontrole. As vezes olho pra Ártemis (minha dog, gente) e vejo ela quietinha e fico me perguntando se ela tá bem, se ela sente falta de algo, se ela tá gostando da ração, se ela quer que eu brinque mais com ela (e pouco tenho vontade porque ela me arranha todinha). Meus pensamentos se estendem muito.
Me sinto em órbita, como se não estivesse com os pés no chão e longe de todos, ao mesmo tempo que estou rodeada de pessoas e com os pés no chão, mas minha consciência tá num lugar que nem eu mesma sei. O que eu tenho feito todos os dias é mandar currículo, leio com mais frequência e hoje escolhi organizar os pincéis de maquiagem que minha mãe me deu de presente. Ainda tenho fé que vou aprender a me maquiar para ir a eventos legais ou até mesmo pra um barzinho conversar com amigos, encontrar pessoas que conhecem meu trabalho, ou com o pessoal do trabalho kkkk
Sinto falta de sair, coisa que eu não tinha frequência nenhuma; sinto falta de ir pra faculdade e torço pra que eu esteja lá como estudante de novo em breve; sinto falta de ir ao parque, levar uma toalha e me deitar pra ver o sol deixando o céu vermelho; sinto falta de respirar sem máscara na rua... Sinto falta de mim mesma quando parecia que eu era feliz e não sabia.
Assinado, Joice.
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