Vagalumes para você

Eu vejo a rua vazia, enquanto só eu e minha cachorra temos nosso momento juntas.
As janelas do condomínio em construção refletem as luzes ligadas e até mesmo a Lua, quando ela decide dar o ar da graça por aqui. Os dias têm sido tão quentes ultimamente, que eu fico transitando entre a cama e o sofá tentando dormir. É praticamente impossível saber quando essa confusão climática vai passar. O fim do semestre está beirando os próximos dias, as vezes parece que chega o natal mas não chega o fim do semestre. Talvez seja porque nesse semestre aconteceu tanta coisa que ele diz "deixa eu ficar mais um pouco pra você lembrar das coisas boas". 
Não é novidade pra ninguém que sempre há algum momento de cada semestre que meu sapato aperta, as lágrimas descem, meu coração parece uma latinha amassada no calor do momento e é como se tivessem entrando inúmeros objetos perfurocortantes na minha alma, que eu nem posso tocar mas sinto uma dor por dentro que não sei de onde vem. As crises. Nisso aumenta remédio, substitui remédio, toma calmante, toma café pra animar um pouco, chora, desabafa e as vezes cá pra nós, o desabafo não sai direito e as pessoas não entendem. Mas elas não são culpadas, eu que sou meio ruim falando. Sou melhor escrevendo.
Nesse último mês eu fiz muita coisa que eu nem imaginava fazer, e foi tão bom, tão gostosinho, que o mês de novembro merece ser lembrado como um mês cheio de luzes, que nem os vagalumes.
Eu sei que eles não tem uma vida muito longa, mas enquanto eles tem vida, eles trazem uma luz aconchegante e bonita pra nós, humanos. No meio disso tudo, eu aprendi a fazer vagalumes para alguém que eu gosto muito. Tá, eu não sei nada de biologia, nem sei onde encontrar vagalumes aqui em Fortaleza, mas eu usei do pouco que eu sei e do que eu muito sentia, e fiz brotar luz.
Quando gostamos de alguém, é isso que naturalmente acontece. É como se num deserto, uma flor nascesse e ela fosse a mais linda de todas; é como se o mundo estivesse queimando do lado de fora e a presença dela causasse um friozinho acolhedor no peito, ao mesmo tempo que o abraço dela nos aquece e é um calor diferente dos demais. É uma mistura de café com tapioca, gostoso e que cabe acontecer em qualquer momento do dia que tá tudo bem, é maravilhoso :)
E assim eu fui criando vagalumes, escrevendo meus sentimentos, desenhando meus pensamentos, registrando minhas músicas preferidas, fazendo boas memórias, que no final das contas, é o que acaba sobrando de todos os momentos que vivemos e do que sentimos: Memórias. Durante esse mês, eu fiz as melhores memórias que eu poderia ter feito em meses, com a presença da minha família, vivendo mais na faculdade do que em casa, sendo absorvida pela vida acadêmica e os ansiolíticos, percebendo meu organismo e notando que estou cada vez mais fraca pra cafeína, abraçando quem eu queria, cheirando e confessando meus afetos (mas nem todos). Enfim, me deliciando com a vida.
Dezembro mal começou e já sinto falta de novembro. Mas uma coisa eu sei: Criei vagalumes para alguém. 
Vagalumes, carinho, boas lembranças, memórias sensoriais e uma sensação de que voltei a ser mais jovem do que meus números falam sobre mim. É tão boa a sensação de gostar de alguém que ao mesmo tempo se torna estranho, principalmente quando os seus planos é se isolar do mundo e se voltar somente para os estudos. Antes poderia ser um desastre, mas recentemente descobri que posso lidar bem com isso e até me sinto mal com isso, pois é como se estivesse infringindo minhas próprias leis. Contudo, uma pessoa me ensinou que quando você muda de ideia quanto à uma lei que você mesmo impôs a si, não faz mal quando é para algo que lhe faz bem. E a conclusão que tive de tudo, é que faço (muito mais que) minhas as essências da existência: eu sei que quero amar, eu sei que quero ser amor.
E luz, como os vagalumes que um dia fiz pra você.

Assinado, Joice.

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