A incapacidade do mundo
Eu tenho um pensamento íntimo, que pode ser lógico ou ilógico. Mas que pra mim, faz sentido: O mundo não está preparado pra ter uma pessoa como eu. E digo isso depois de muito ter pensado sobre como as pessoas tem agido (e como não tem agido também).
Os elogios das últimas semanas são em suma os mesmos: "você é paciente", "você é engraçada", "você é corajosa", "você é forte". Entretanto, o mundo não tem colaborado muito pra que isso tudo seja verdade e eu me pergunto: Eu sou mesmo assim como todos dizem que eu sou? Porque eu não me sinto.
Tenho me sentido em órbita, sem sentido nas ruas que ando, nos ônibus que pego. As vezes parece que tenho que lidar com um sentimento que não me pertence, mas vou disfarçando, vou deixando pra lá. Enquanto dá, eu vou fazendo isso, mas não sei até quando.
Não sei até quando o mundo vai ser só algo "suportável" pra mim; pros meus pensamentos que seguem recheados de emoção mesmo quando o mundo não as releva; pras minhas ideias que as vezes parecem tão inovadoras mas que não dependem só de mim pra sair da minha cabeça e virar realidade e; pra minha solidão. Preciso pedir perdão à minha irmã pelo que vou dizer agora: um cachorro não é suficiente na minha vida. Esses dias tem sido tão complexos pra mim que eu penso em muitas coisas ao mesmo tempo, me sinto exausta e precisando de um abraço, mas não tenho. A pobre da Ártemis não tem que me aturar sempre, minha irmã, me perdoe...
As vezes nem comer faz um sentido exato. A fome não é como normalmente poderia ser, uma ausência que quando suprida pela presença de alimentos, se sacia também o paladar. Não sinto o gosto da comida como se estivesse com fome, e como pelo impulso de não querer sentir uma dor no estômago nas próximas horas. Será que isso é presságio de alguma coisa e eu não tô conseguindo mais uma vez identificar?
O mundo parece mesmo incapaz de ter uma pessoa como eu, por eu me sentir tão cheia de sentimentos bons pra compartilhar mas nem sempre conseguir, sempre sentindo uma "ausência". Uma das minhas sortes é o desmame, eu consigo expressar o que eu sinto mesmo criando meu próprio mar. Mas há momentos em que estou sentada à mesa em frente a folhas pautadas, folhas em branco, folhas de caderno, computador e só consigo levar uma mão de encontro a outra e encostar na testa, sem entender o que tem acontecido comigo. Eu tenho muitos motivos pra sentir completamente o contrário do que estou sentindo, mas isso ainda está aqui e sei que não é normal. Vai além dos sonhos estranhos, das dores de cabeça ou taquicardia elevada.
Olho ao meu redor, olho pra mim, olho pro horizonte e vejo a incapacidade do mundo em me ter aqui.
Acho que não tenho mais suportado ser só mais um número, uma presença, uma matrícula, uma estagiária, uma voluntária, uma bolsista, uma estudante, uma graduada, uma especialista, uma filha, uma irmã, uma amiga, uma colega, uma conhecida, uma tatuada, uma nerd, uma pessoa forte ou qualquer outro adjetivo que qualifique ou eleve uma pessoa. Eu não tenho mais suportado ser.
Mais um dia que o mundo está desperdiçando a minha presença, a minha inteligência, os meus sentimentos, o meu coração. E isso está me esgotando.
Assinado, Joice.
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