Sinto
Eu sinto que as vezes era melhor nem existir.
Cheguei a pensar que com o passar dos anos, passando os famosos "de repente 30" algumas coisas fossem melhorar, como lidar com meus sentimentos, minhas dores, faltas de expectativa e os erros alheios. Mas acho que eu tava enganada. Lembro que quando comecei no centro espírita esse ano, voltei a ter aquela visão da humanidade como "uma tentativa de ascender" espiritualmente, e praticar perdão, entender que todo ser humano tem sua forma de viver, sua missão, seus pecados pra pagar, seus aprendizados pra adquirir, independente se fosse por uma topada ou por ter um colega de trabalho insuportável.
Mas cá pra nós, eu e você, nós, tem um momento que não dá pra levar sempre assim. A gente cansa.
E eu cansei.
Eu tô muito cansada, seja fisicamente ou mentalmente. Meu peito pesa, minha cabeça, meu corpo e eu venho fazendo o de sempre: tento me manter de pé. Queria que Deus entendesse em algum momento que eu não sou totalmente de ferro e me deixasse descansar. Queria muita coisa, na verdade...
Acho que a primeira coisa que gostaria era de chorar, copiosamente. Meu corpo já absorveu muita substância do meu antidepressivo e quando eu tenho muita vontade de chorar, não consigo como gostaria. O meu peito pesa, minha cabeça pesa e eu me sinto inválida, com mal estar. Depois de chorar, gostaria de ficar em posição fetal na cama, com um bom ventilador direcionado à mim, porque o meu do quarto tá muito fraco. Prevendo que talvez eu tenha sono, por chorar muito, vou tirar uma soneca, e talvez dessa vez eu consiga dormir um sono que preste, sem pesadelos, sem acordar achando que to atrasada, enfim descansada. E quando levantasse da cama, tivesse alguém sentado no sofá da sala me esperando, de braços abertos pra me receber e tudo bem, eu talvez fosse querer chorar de novo, mas ao menos seria amparada. Não precisaria trocar palavra nenhuma, pra início de tudo, acho que tá bom isso.
Tem uma música clichê que diz "e até quem me vê lendo o jornal na fila do pão, sabe que eu te encontrei", a minha seria "e até quem me vê comprando pão não faz ideia do que se passa dentro de mim".
Agora me vêm à cabeça de quando eu era criança, que meus colegas diziam que queriam uma mãe igual a mim, que queriam estar no meu lugar independente de família, que queriam ser inteligentes como eu e hoje eu to aqui, na frente de um computador tentando extrair o que eu tô sentindo pra um blog, e só saem coisas tristes. E sim, é o que eu tenho no momento. As vezes é estranho o quanto as pessoas dizem acreditar que você pode, que você consegue e você mesmo não ter forças pra isso, não conseguir, tentar ser forte e não encontrar forças. Já me vi tendo forças pra tanta coisa inútil, pra aguentar caras que diziam gostar de mim e me trairem, pra perdoar mentiras, pra tentar reerguer amizades, laços, pra me reerguer até, mas agora eu só queria ter a capacidade de ficar deitada sem preocupação nenhuma, sem receio de não levantar amanhã, porque sei que vou estar esgotada, me sentir esgotada.
Mas vou ter que levantar.
A impressão que tenho é que se eu fosse qualquer outra coisa, estaria neste mesmo momento, sentindo a mesma coisa. Fosse astronauta, bailarina, veterinária, cientista da computação, administradora, geógrafa ou professora. E o que eu posso fazer agora, é ouvir música enquanto meus ouvidos aceitarem e esperar o dia de amanhã acordar, pra eu levantar e mais uma vez seguir, com uma máscara ou não, com vontade ou não.
Mas sempre sentindo. Até quando eu enfim puder descansar em paz.
Assinado, Joice.
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