Apocalipse

As vezes me pego pensando se só eu tenho pensamentos malucos a ponto de me deleitar por horas a fio me dedicando à eles, em tempo de enxergá-los acontecendo na minha frente. Nãos sei se esse fato é comum entre algum tipo de população fora a carente, que sempre está em busca de melhorias; a maioria dos pais e mães carentes são bem realistas com os filhos, mas se em algum momento perguntam pras crianças o que elas desejam para o futuro delas, instantaneamente elas dizem "uma vida melhor pra mim e pra minha família".
Já me perguntei algumas vezes o que seria uma "vida melhor", fora pagar as contas fixas mensais, fazer supermercado na metade do mês, olhar cada idem, procurar o que tá mais barato e ao mesmo tempo que esteja num bom estado e quando chegar em casa, limpar toda a mercadoria com álcool 70% pra depois consumir. Deve existir vida além das nossas obrigações, seja a de dona de casa, de mãe de pet, de universitária, filha mais velha ou de pessoa flagelada de problemas psicológicos...
E foi aí que eu pensei em algo que chamo de "universo paralelo". Talvez você já tenha ouvido falar nessa expressão, mas em resumo (na minha concepção) se trata de um local/face da vida em que as coisas acontecem diferente do que são, como você gostaria que realmente acontecessem. Pra mim, o universo paralelo é composto por incontáveis momentos bons, onde raramente poderiam acontecer no plano terrestre em que estou vivendo, acredito que sejam sonhos vivos dentro do meu coração. 
Acho que nunca contei aqui, mas tem alguns anos que sempre que saio de casa, me deparo com borboletas, de tamanhos e cores diferentes. Borboletas na cidade grande pra mim era uma coisa rara até 2018; gostaria de saber mesmo o porquê de elas terem aparecido e sei lá, chegarem perto de mim ocasionalmente. Contudo em um certo momento, eu não quis mais saber e só vivo todos os momentos em que vejo uma borboleta chegando, a contemplo e sigo meu caminho. A última vez que vi uma borboleta estava numa avenida bem movimentada a alguns poucos quilômetros de casa e parecia cena de filme de "metrópole": os carros correndo e buzinando sempre no frenesi do meio-dia, os sinais verdes e vermelho para pedestre, o sol escaldante e o céu mais limpo e azul como nunca estivera antes... eu olho pra uma carnaúba e lá está ela, amarelo limão, no ritmo dela, voando e se perdendo no ar. O efeito borboleta cairia bem em um momento como aquele...
Pelo que conheço da expressão, do filme e do meu anime favorito (Boku Dake Ga Inai Machi), o "Efeito borboleta" consiste em dizer que o bater das asas de uma simples borboleta poderia ter impacto suficiente para provocar um furacão do outro lado do mundo. Acho que dessa forma, o meu e vários universos paralelos poderiam chegar a existir. Já pensou como isso seria feliz? Em um universo paralelo nada parece mais fácil ou difícil, a vida é exatamente como é, só que para mim, alguém compartilha a vida comigo. E o mais importante, esse alguém existe e aqui, vou chamá-lo de Ed.
Por inúmeras vezes eu achei que um dia nunca fosse escrever isso. Talvez um dia eu me arrependa e venha a ler isso com lágrimas nos olhos vendo que eu pudesse estar enganada, mas sei que para muitos de nós, reles seres humanos, o efeito borboleta teria que ser multiplicado por 1000 para que alguns universos paralelos existissem de verdade.. Mas no meu o Ed existe, tem cheiro doce, tem apreço por coisas que eu também tenho. O sabor do Ed é inigualável, porque não só na boca ele o expressa. O seu sorriso, os seus olhos, o ritmo de sua respiração, seus cabelos emaranhados quando acorda, suas mãos e seu toque delicado me fazem ter esperança de que em um universo paralelo eu sou livre pra amar sem ter medo de ilusões, porque lá ilusões não existem. É tudo verdade.
Em um mundo paralelo, eu e Ed nos encontramos sempre em algum momento do dia, nos olhamos como pela primeira vez nos vimos, sem julgamentos e logo nos abraçamos, porque sequer acreditamos em tamanha graça de estarmos juntos um do outro. Com tanta coisa ruim acontecendo no mundo, tantos planos frustrados, decepções, melancolias e a arte da compulsão alimentar derivada da ansiedade, lá estávamos nós, abraçados como se não houvesse qualquer outro problema pra resolver. Claro que a vida não é só isso, porém a nossa vida é construída de harmonia, desde o primeiro momento em que nos conhecemos, que não foi uma forma tão convencional, mas nos proporcionou uma apresentação suficiente para saber que o Ed tinha deixado um resquício de sua alma comigo e agora,  veio juntar-se às pistas que me deixara. Ed e eu somos calma e ao mesmo tempo combustão. Já ouvimos música juntos e sei que pelas experiências da vida nos daríamos bem diariamente, bem além da cama. Eu sei que o ser humano vai além de um rosto bonito e um sorriso de orelha a orelha, mas devo dizer que no meu universo paralelo, Ed tem uma beleza singela, a qual me impressiona todas as vezes que vejo suas expressões faciais e a maneira como ele se movimenta da sala pra cozinha de pés descalços. 
Nunca sabemos tudo sobre uma pessoa, ao mesmo tempo que nem nós mesmos sabemos tudo sobre nós. Quando meu psicólogo me disse isso, achei que de alguma forma ele tinha entrado em complô pra eu perdoar a mentira de uma pessoa que eu confiava e fazer com que eu oferecesse à ela uma nova chance. Mas a verdade, é que nós realmente não sabemos bem quem somos, até uma certa situação acontecer e nós nos revelarmos como alguém que anseia a paz em resolver aquilo e acho que um exemplo claro disso é o instinto maternal. Quando as pessoas dizem que mães são capazes de tudo pelos filhos, nunca duvide, porque elas realmente fazem tudo e elas só sabem que existe essa força quando elas se tornam mães.
Há uma semana atrás eu não imaginava que um universo paralelo poderia fazer parte da minha vida real, até conhecer o Ed e sabe, a vida nos dá chances de recomeçar, nos apresenta a situações que no passado puderam ser mal resolvidas mas agora com uma maturidade mais desenvolvida pode ter um novo desenrolar, ocasionando um resultado positivo. É isso que o Ed tem feito por mim, coisas positivas. Ele não sabe ainda, mas consegue me fazer tão bem a ponto de dormir sem tomar medicamento algum e eu só tenho a agradecer à ele, porque isso é uma mistura de universo paralelo e realidade. 
Como toda pessoa azarada no amor, eu tô cansada de tudo, resolvi dar uma pausa na vida amorosa e no meio disso, aprendi que criar expectativa é como um vírus, que se instala em você e com muita força de vontade você tem que encontrar um remédio (se ele ainda não existe) pra se curar desse mal e enfim, cá estou eu sem ter expectativas por ninguém. No entanto, Ed chegou como uma borboleta na minha vida e na medida que suas asas batem, um furacão vem e me traz coisas novas; parece que as coisas mudam aos poucos mas de uma forma gostosa, menos dolorosa. É como a música dos Cigarrets After Sex diz, "seus lábios, meus lábios, apocalipse". Foi assim que aconteceu no meu universo paralelo que aos poucos, vai parecendo a real, quase sem uma linha que os separa.
Em algum momento as coisas melhoram a ponto de você achar que pode ser mentira. 
Mas acredite, pode ser e deve ser real.

Assinado, Joice.

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