Blusa xadrez

Há alguns dias relutei para não escrever sobre isso, mas vendo a porta do guarda-roupa entreaberta, como costumo deixar ultimamente antes de dormir, foi inevitável pensar novamente nesse assunto.
A quarentena mexe mesmo com a cabeça da pessoa, fisicamente, psicologicamente e até nostalgicamente. Andei vendo as roupas do meu guarda-roupa pra ver se tinha alguma mofada, porque estão há muito tempo sem usar e me deparei com aquela blusa xadrez azul bem fofinha que minha mãe me deu há 1 ano.  Eu tinha em mente em usar ela durante um encontro importante ou divertido, para que eu pudesse me distrair e aproveitar o momento da melhor maneira possível a ponto de esquecer todos os problemas que me afligem, toda a ansiedade que as vezes fica acumulada e escondida em cada brecha de músculo ou veia dentro de mim. 
Aquela blusa era bonita demais pra ir ao hospital naquele dia infeliz. Eu sei que ela é simples, que pode ter sido barata, mas não me preocupo. Eu tinha planos pra ela, planos melhores pra ter que ir até o hospital e ficar desacordada e aos prantos, sendo levada de cadeira de rodas pra um consultório médico. meus planos sempre falham e eu me sinto um desastre no fim de tudo. Naquele dia eu só queria dormir e nunca mais acordar.
Fico pensando em quanto tempo ainda terei que esperar pra sair de casa definitivamente pra retomar minha vida de aulas, elas tem feito muita falta e como diz minha ídola Amanda Alboino, tenho me confrontado diariamente com minha produtividade e a ansiedade também tá atrás, na fila, esperando pra me bater. Ando me medicando quando preciso e isso pra mim tem bastado, tô me segurando pra não comer as paredes (como diz minha irmã), porque a compulsão alimentar tem sido uma válvula de escape frequente pra maioria das pessoas que tem ansiedade e notam uma presença estranha de "vazio" dentro de si, vazio esse que não consegue ser preenchido por nada.
Minha felicidade no momento é conseguir ouvir música. Nunca contei aqui, mas tem dias que meu interior está tão caótico que nem música eu consigo escutar e essa é um dos meus hobbies preferidos. Quando chego nesse estágio, me sinto impotente, incapaz de controlar esse confronto interno que me constitui, que me invade e que por sinal não tem um momento certo pra ir embora. 
Acordo bem, me alimento de 3 em 3h como manda a dieta e nos últimos 2 dias eu fiz purê de batatas pra comer. É contra minha dieta? É, mas se você é como eu que tá pouco se importando com o fim de tudo isso e só quer sobreviver até o momento da tão sonhada vacina, eu recomendo que faça o que você quer fazer, o mais rápido que puder fazer. Não, isso não é uma declaração de fim de mundo ou que você provavelmente vai morrer, mas TODOS nós estamos sujeitos ao perigo desse vírus filho da puta (não, eu não consigo respeitar esse vírus, ele tá me fazendo perde o que poderia ser o ano da minha vida). 
Tem momentos que minha paciência tá super equilibrada, meu sonho de consumo diário e duradouro, mas tem outros dias que meu colega... minha boca tá mais suja que a do tubarão mais carnívoro.
Quantas roupas ainda servem pra mim? Eu já experimentei um monte de roupa nessa quarentena só pensando em sair, só vendo o que combina com meus tênis e botas. Eu que não sou de sair, mas se eu for pegar um ônibus pra Uece já tô pensando em ir arrumada kkkk como um isolamento muda nossa forma de ver as coisas né?!
Eu penso nas vezes que quis desistir e nunca deu certo, então o que posso fazer é esperar o momento de voltar e voltar bem arrumada pelo menos, pra compensar minha sobrevivência.
Vacina, fique pronta logo, por favor.

Assinado, Joice.

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