Meu castelo animado
Eu lembro quando assisti O castelo animado pela primeira vez. Não tinha lá aquelas perspectivas todas, mas já havia visto pessoas que gostavam muito e consequentemente tinham grande afeição pela obra. E que obra.
Quando vi a Sophie, pude me reconhecer um pouco nela, principalmente quanto a achar que a vida ser a personificação de um mar calmo, por ser monótono e uma rotina que não meche com suas tarefas. Mas como no filme, as vezes a minha vida decide virar de cabeça pra baixo. Não é bem uma bruxa que aparece, mas são coisas que acabam sendo um feitiço que transforma qualquer mar calmo em tempestade.
A minha paz, acaba sendo encontrar o meu castelo animado.
É incrível que até mesmo quando a Sophie se torna uma velhinha, a gente se parece. O jeito que ela zela pelo castelo do Howl, como tenta agradar as pessoas da nova convivência dela e as características meio anciãs. Até os cabelos brancos que estão nascendo... Pareço com ela. Vez ou outra existe um senhor cabeça de nabo que me conduz até um lugar sereno, mas nem sempre. O que importa mesmo, é chegar no meu castelo animado.
Outra coisa que nem sempre encontro é o Howl. Seria uma maravilha se fosse assim, encontrar alguém que eu gostasse e pudesse me corresponder também, que estivesse disponível e me quisesse quando eu a quero também. Sophie e Howl tiveram sorte, apesar de todas as aventuras, viagens e desafios.
Tem certos momentos que a vida pede que a gente comece de novo, que nossa entrega seja diferente, que haja mais dedicação e olhar mais puro, apesar da humanidade estar tão suja. Eu já desisti daquela ideia de que a vida é simples e que a gente que complica tudo. A vida é complicada sim; pra uns é até fácil demais mas pra outros é tão complicada quanto. Contudo não se tem escolha, é enfrentar ou enfrentar. E magia as vezes faz falta nesse processo de enfrentamento.
Hoje eu comecei um processo novo na minha vida, de reconhecimento e de tratamento. Eu entendo completamente as pessoas que dizem que não são a doença que carregam, porque eu também não sou a minha. Eu a tenho e tudo bem, é difícil de algumas pessoas me aceitarem como sou, mas não é obrigatório que elas me aceitem, contanto que me respeitem. E assim vou lidando com tudo, assim como outras vão lidando com seus problemas para além da saúde.
É que nem ter uma maldição, as vezes você tem que conviver com ela e lutar constantemente pra descobrir uma forma de sair de lá, acabar com tudo isso que te faz mal, que te atrapalha. Enquanto isso, se vive como dá, o importante é não parar. Que nem a Sophie fez, como o Howl fez.
Eu adoro O castelo animado, pra mim é uma história que vale a pena ser vista todo ano. Toda história do Studio Ghibli tem um fundamento, uma lição que a gente leva pra vida, principalmente em matéria de amor, qualquer que seja o tipo de amor. E se for parar pra pensar, o mundo precisa da solidez do amor, de pessoas que tenham disposição pra ser o que são e de pessoas para aceitarem o que as outras são, para assim poderem ser aceitas também.
Eu sigo procurando meu castelo animado, talvez eu veja o senhor cabeça de nabo por aí e o Howl, esse eu gostaria muito de encontrar.
Assinado, Joice.
Entendi onde você quis chegar com o conceito de que a vida é a personificação de um mar calmo, porém, automaticamente isso me fez lembrar um video onde um senhor fala sobre um poema do Juan Gelman sobre "amor sereno" e em parte eu concordo com a visão dele, não consigo olhar para o amor como algo sereno, mas não num sentido ruim, mas amar loucamente me parece mais atraente, não amar loucamente varias pessoas ou amar loucamente num sentido toxico, mas amar loucamente como alguém que vai a praia para pular, festejar, pular as ondas, claro que ficar um pouquinho ali no sol, mas logo voltar para a agua só para sorrir como se não houvesse amanhã, só que eu acho que esse amor louco só é possível, quando você sabe nadar, quando você está num relacionamento onde existe a segurança por parte do parceiro (a) e ai entra justamente a parte mais pro final onde você menciona a aceitação daquilo que o parceiro traz consigo (um doença, um trauma, más experiencias, familia complicada, etc). Não acho que todo mundo esteja preparado, infelizmente até acho que vivemos numa sociedade e num tempo onde as pessoas procuram o "facil" e isso acaba por piorar as coisas quando quem procura o facil traz consigo um baú de experiencias, então encontrar alguém que ofereça segurança é fundamental, encontrar alguém que esteja disposto a abraçar qualquer que seja aquilo que você traz consigo é raro, mas não tem preço, pois essa pessoa não vai se importar com os seus defeitos, com os seus traumas, com uma eventual doença, com uma familia complicada, essa pessoa está ali por você e isso não significa algo leve, ao estar ali ela automaticamente (as vezes até em silencio) já aceitou tudo o que você tem, porque essa pessoa se apaixonou por você e não uma personificação de quem você é, então já sabe o que vem por ai e está disposto a lutar consigo, mesmo que isso signifique um amor louco
ResponderExcluir