Sobre paciência

Há alguns dias eu venho ouvindo uma frase repetidas vezes... "tu é tão calma".
Talvez eu nunca tenha sido tão paciente na vida, ou em outras vidas, como estou sendo nesses últimos meses e não é por comentar isso (acredito eu) que o meu nível de paciência será rebaixado.
Confesso, assumo e sou testemunha de acusação de mim mesma que sim, eu era muito impaciente. Sempre fui o tipo de pessoa que queria as coisas pra ontem, me articulava pra isso, sempre pra poder ser a primeira em tudo, pra ser avaliada (e bem avaliada) primeiro e consequentemente ganhar por conta disso; estar sempre à frente de tudo e todos, pra (obviamente) ser bem reconhecida pelo que fazia. Hoje em dia eu paro pra pensar a respeito disso e vejo que me desgastei muito por conta dessas situações.
A vida mudou de curso várias vezes, algumas porque eu quis, a maioria delas porque eu não quis ou planejei mas mesmo assim abracei os percursos, as oportunidades e fiz o melhor que pude, e cá estou eu, sendo paciente com o que vem acontecendo, com o que me vem chegando e também com os ganhos e aprendizados (porque não existem perdas, na verdade). Não sou mais a primeira, nem sou a última, mas preservo minha saúde mental e a qualidade do que faço, principalmente dos meus sentimentos. E num é que tem dado certo?! :D
Os "de repente 30" estão chegando e eu ouvia falar da crise dos 30, cheguei a participar de crises alheias e sofri por conta dessas kkk mas não consigo me ver em uma crise, e sim num ambiente de aprendizado, onde todos os dias eu sou posta à provas e mais provas, algumas pessoas querendo me encher o saco, umas espinhas aparecendo no nariz, meu rosto que vai ser pra sempre redondo porque a vida inteira eu fui gordinha e mesmo tendo emagrecido meu rosto continua do mesmo jeito e por aí vai. O que eu mais tenho percebido é que quando me olho no espelho, consigo me ver de uma forma diferente, não mais com um desdém de antes, de 6 meses/1 ano atrás. Hoje me vejo como alguém em evolução; uma pessoa nem melhor e nem pior do que ninguém, mas uma pessoa única :) até parece clichê falar isso mas tô aqui cuidando da Ártemis porque ela ficou dodói, pensando em como a vida acontece e as pessoas também vão vivendo, e é isso que eu sou, uma boa pessoa, que se encontra evoluindo da maneira que pode, com as oportunidades que a vida me dispõe e ao mesmo tempo gerando as minhas próprias oportunidades, prezando o lado saudável das coisas. 
Chegar no nível de paciência que eu tenho hoje não foi fácil, é preciso dizer que eu já surtei. "Joice, você já foi surtada?" eu já fui surtada e talvez se alguém me chamasse de surtada na época, eu aceitaria facilmente porque era compreensível; meus nervos me condenavam facilmente, a troca de medicamentos me deixava à flor da pele, as terapias me ajudaram muito, as alternativas também (e é preciso ser mente aberta pra isso) e se hoje eu sou uma pessoa evoluída, eu agradeço à mim mesma que aguentei firme as críticas, julgamentos, pré-julgamentos e preconceitos de pessoas que até me chamaram de bipolar lá atrás, sem saber o que realmente eu tenho.
Ser paciente requer calma e até mesmo fé, fé no que não se pode ver e as vezes no que nós chegamos a duvidar que pode existir, porque podem haver momentos que não conseguimos ver luz no fim do túnel. Incontáveis vezes eu chorei num passado não tão distante sem saber que hoje eu poderia escrever com aceitação sobre os meus momentos de perrengue, de melancolia, de impaciência, surto, burnout e até mesmo das vontades de desistir de viver. Eu fiz bem em não ter desistido, a persistência hoje tem valido a pena. 
Não posso esquecer que tiveram pessoas durante todo esse percurso, algumas que estão até hoje comigo e outras que decidiram ser somente um momento, e tudo bem. Tudo é questão de aceitação. A gente precisa aceitar que nem todo momento dá pra dar conta sozinho, que ter um abraço ou um colo faz bem, que ser amado pode ajudar, que amar também pode abrir os nossos caminhos assim como abriu o meu. 
Como dizia um quadro que vi em Arraial D'Ajuda, "amor é a resposta, não importa a pergunta". Eu creio que meu amor próprio também tenha colaborado bastante pra esse momento se concretizar na minha vida... Me aceitar como eu sou, conseguir ver onde eu devo melhorar, ouvir mais ao invés de falar mais, observar onde erro e devo pedir desculpas, onde eu devo me valorizar, e principalmente, evidenciar o que há de melhor em mim, alimentar as minhas qualidades, ajudar meu próximo e amar quem me ama, estar com quem escolheu estar comigo e deixar ir quem não quer ficar. Autoconhecimento. 
É sobre paciência. E sobre o que constrói ela também.

Assinado, Joice.

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