Hysteria
Sempre quando ouço essa música, lembro de tempos remotos da minha vida, onde eu toquei o foda-se e aproveitei a vida como nunca tinha me permitido antes.
Lembro das vezes que saí em busca de algo que preenchesse o vazio que me faltava, de quando eu fiz vários piercings que jamais pensaria em fazer e até de quando fui à barzinhos assistir cover de bandas que conhecia e até que não conhecia também. Tudo em busca de algo, de alguém, de algum motivo para me manter viva. Ou me sentir viva.
As vezes vejo que esse estilo de vida é infeliz, e não é a toa porque já ouvi relatos de pessoas que vivenciaram essa fase comigo e a gente pensa "naquele tempo eu tava perdid@". Sabe o que é mais engraçado? Foi pouco tempo antes da pandemia, e realmente parece que as pessoas já se encontravam com o "sensor de direção" meio abalado, procurando motivos pra sair, pra ser feliz ou pra demonstrar o mínimo de alegria que fosse e tirar aquela selfie, gravar um story e se certificar que o mundo estava ciente de que a vida tava boa daquele jeito. Mas na verdade não tava tanto assim.
Eu já tinha ouvido essa música antes, quando eu era adolescente, mas sabe quando as coisas voltam do nada e acabam mexendo com tudo? Pois é, Muse costuma fazer isso comigo. Eu tô quietinha no meu canto, ouvindo músicas no aleatório e vem uma bomba cantada por eles, me fazendo mergulhar num mar de nostalgia que eu fico boqueaberta comigo mesma, me deparando com uma Joice tão diferente do que normalmente sou, que nem consigo me identificar. A última vez que vi essa música ser cantada, estava em um bar longe de casa, com uma banda cover relativamente famosa lotando a pista, muita gente cantando aos gritos e quem fazia o tom do vocalista era uma mulher. O guitarrista tava orgulhoso do agudo dela, e o baterista focado demais no solo que não saía da minha cabeça (e que baterista...).
Por um momento eu parecia numa daquelas cenas de Malhação, quando a mocinha entra em cena e procura o olhar do mocinho - que nem era tão mocinho assim - pra dizer "hey, eu tô aqui te vendo" e naquela noite eu consegui chamar a atenção dele. Acho que aquela foi a única coisa interessante na minha noite, me rendendo algumas horas com o cara no dia seguinte, que ocasionalmente era um domingo - e que não foi morgado, você sabe o porquê.
Eu não me considero alguém revoltada, muito menos negligente com minhas atitudes, mas aquela noite foi foda. Deu pra enganar meu ego, minha autoestima, meus sentimentos, a saudade que eu sentia de ter alguém pra chamar de meu, a ausência de beijos e de pegada, de calor, de suor. Eu fui e fiz bem o que o refrão da música diz:
'Cause I want it now
I want it now
Give me your heart and your soul
And I'm breaking out
I'm breaking out
Last chance to lose control
Eu não fui nenhum vampiro, nem tava tão sexy como gostaria. Mas eu tinha um alvo, e me senti uma pessoa bem a frente do meu tempo (e olha que nem sou tão velha assim), indo atrás de quem eu queria, porque eu simplesmente queria e só! Ouvindo Hysteria agora (03h36 a.m) me fez rir baixinho e ao mesmo tempo pensar em quão adolescente eu fui naquele pequeno momento de vida adulta que tava atravessando: o da solidão. 2022 foi uma virada de chave, na minha vida e na minha cabeça, nas minhas concepções sobre amar alguém e sobre só querer pegar alguém, sobre ter tato dos sentimentos que eu sinto e não me iludir e até mesmo sobre permitir que alguém se iluda, ou que achem que eu esteja me iludindo, sendo que eu tô mais lúcida do que nunca. Foi um ano bom e um ano ruim, marcado ironicamente por pingos de histeria.
Mas acho que nem sinto falta. Se tornou somente mais uma história.
Assinado, Joice.
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