Menos um dia.

16º dia de quarentena e senti um princípio de crise. Mais um dia, menos um dia. No meu aplicativo de calendário feminino indica que hoje é o primeiro dia fértil do mês, mas eu acho que independente de ser mulher ou não, todos nós estamos enlouquecendo de estarmos convivendo com as mesmas pessoas por tantas horas seguidas, como nunca convivemos antes. Hoje minha mãe fez feijão pra minha irmã e ouvi ela ralando uma cenoura (que provavelmente é pra mim). Ontem tirei uma selfie ocasionalmente pra mandar pro meu brotinho que está do outro lado da cidade confinado com a família dele e percebi o quanto meu rosto está mais oleoso e com espinhas, sendo que não estou em período pré-menstrual. Sem tempo pra esse tempo que consome todos os meus bons e maus hormônios.
Aleatoriamente e involuntariamente meu coração começa a acelerar de leve, até que um vazio (como se fosse um buraco negro, sabe?) começa a se abrir dentro de mim e eu nunca tenho controle sobre isso, então recorro aos meus calmantes, que só mudam de nome ou de miligramas, mas todos são da família das benzodiazepinas. Sabe o que eu acho? Quanto mais miligramas, melhor pra mim. Gostaria neste momento de estar no total escuro da minha normalidade, de quando vivo sozinha em casa, olhando pro teto, ouvindo minhas músicas aleatórias, ou sequer ouvindo nada. Com a TV desligada como sempre, ouvindo todo o bloco gritando ou berrando (como os bebês do térreo), ou o liquidificador ligado da vizinha e ela mexendo na torneira que deu problema na minha vida que já não é sossegada por natureza.
Eu gostaria que Deus tivesse piedade de nós e de todos os protagonistas dessa história de merda que estamos vivenciando. Eu sou só mais uma figurante, vendo tudo pela TV porque minha mãe tá aqui em casa com a minha irmã e a mãe não vive sem uma TV ligada (infelizmente), isso implica dizer que uma hora ou outra vai brotar na TV uma notícia sobre Covid-19 ou Coronavírus ou hospitais sendo construídos ou a bendita curva que não pode aumentar ou a suspensão das aulas que me deixa mais triste que a morte do Chester do Linkin Park (não gosto nem de lembrar desse dia...).
Ao que tudo indica, de tempos em tempos acontece da Terra passar por essas varreduras, seja a pessoa inocente ou não, ela pode ser pega de surpresa e PAM, cair fora pra outra dimensão, seja o purgatório ou umbral ou inferno ou paraíso ou o lar de Maria, cada um tem sua crença, ou simplesmente o vácuo. Cada um vira uma estrela, poeira do universo, já que é enterrado a 7 palmos do chão e se deteriora. Simplesmente poeira.
Até quando iremos aguentar ficar somente dentro de nossas casas, saindo somente e tão somente para o essencial, que seria pra comprar comida? As notícias da TV confirmam que o isolamento social tem dado conta da diminuição ou o controle da tal curva de crescimento de infectados pelo vírus mortal que se apodera do seu pulmão. Ouvi dizer que alguns psicólogos se disponibilizaram voluntariamente pra auxiliar online pessoas doentes, mas ainda não busquei esse tipo de ajuda, quem sabe quando eu já tiver à beira das últimas loucuras que eu possa ter. Mas por enquanto, o que me deixaria bem, seria a solidão. Que falta eu sinto da minha solidão e solitude...

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