Novo projeto - pt. 2

Hoje minha carta vai pra duas "pessoinhas" que eu amei por muito tempo, que compartilhei meu lar e que aparentemente, a vida delas foi destruída aos poucos, como as demais plantinhas que criei foram destruídas...

Tuco e Marilda, sinto muito pelo que aconteceu com vocês. A vida é um tanto imprevisível com todas as fontes de oxigênio que existem em seres que criam raiz, sejam racionais ou irracionais esses seres. Lembro do dia que eu ia saindo da aula e dei de cara com vocês no corredor da faculdade, eu só tinha R$5 na bolsa e pensei "melhor gastar com vida do que com frituras". E acho que foi o melhor que fiz. Conviver com plantas, coisas verdes, vida além da minha dentro da minha casa é ter mais responsabilidade, é lembrar de dar água, atenção, conversar, ver que a luz do sol é importante não só pra mim. Entretanto, existem outros seres que se alimentam também de vidas como as plantas e que brotam aqui nesse apartamento do nada. 
Depois de mais de 1 ano com vocês, as formigas mais uma vez aparecerem e mataram a Marilda. Fiquei muito triste com isso, vocês eram um par perfeito, desde que os vi. Cuidei feito filhotes que só faltavam falar ou pedir comigo (nem vou me estender muito com isso, senão o Maurílio fica com ciúmes, aquele insensível...). Todas as plantas que tenho em casa, tem consigo uma parte de mim, seja carinho, atenção, sentimentos, palavras, confissões, choros, momentos de depressão e solidão, até momentos de alegria, perrengue e suspiros de desespero e alívio. 
Minha mãe mandou uma postagem do instagram ontem dizendo que tipo de plantas é bom ter em casa, pra ter um ambiente positivo, mas sempre insisti em um cacto, e junto com a Marilda veio o Tuco. Agora, o Tuco tá sendo atacado pelas formigas, sinto que não vou conseguir salvar ele. Já tirei ele do lugar, cavei outro buraco e recoloquei, pus água e coloquei no sol e sempre vejo uma ou duas formigas saindo da terra. Me sinto um fracasso com plantas. Que pessoa eu sou, que não consigo salvar minhas plantas?
Vejo o quanto a vida é dura, se não para plantas, pra pessoas; se não pra pessoas, para animais. É tudo um ciclo, a gente nunca sabe quando as coisas vão acontecer, quando vamos morrer, quando vão chegar novas companhias, quando vão nos deixar e a gente tem que tá preparado pro fracasso. Mas como? Eu não sei, talvez chegue um dia que eu e você estejamos calejados de tanto isso acontecer que já vamos estar acostumados a nos despedir, aceitar que o ciclo da vida é esse, que tudo tem seu tempo de ir pra outra coisa nova vir e estar pronto pra respirar fundo e abrir os braços pra receber novas plantas, ter o cuidado que tínhamos (ou redobrar os cuidados) com as anteriores e dar o nosso melhor, quem sabe até mudar de tipo de planta na sua casa, assim como animais de estimação com o tempo, dependendo da sua permanência dentro de casa.
É até estranho pensar que, como as plantas, um dia seremos nós que vamos ser comidos por formigas, mesmo que involuntariamente. Para onde irão conosco, essas formigas? O que sobrará de nós, senão apenas lembranças? Do Tuco e da Marilda, eu tenho vídeos diários, não vejo a hora da quarentena acabar e pegar umas moedinhas pra comprar novas plantas pra mim. Sinto meu coração partido de qualquer forma, tudo o que acaba nesse lugar que chamo de "lar" me faz falta, pois compõe minha história. Vai ser assim enquanto eu morar aqui, até quando eu mudar, assim como eu morei em outros locais e tive histórias marcadas em cada casa.
Já sinto saudades, Tuco. Me desculpem, plantinhas.

Assinado, Joice.

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