Sistema em pane
Faz algum tempo que percebo que meus sistemas corporais não funcionam da mesma maneira, como há 1 mês atrás por exemplo e isso não tem sido fácil. No começo eu achei que seria mais simples, que logo poderia passar, mas hoje vejo que não, que vai além do que eu poderia imaginar.
Acho que meu sistema está em pane.
Notei que meu sistema urinário deu uma pequena falha no meio do mês de julho, onde a última vez que senti algo com ele foi no mês de agosto de 2019 e lembro bem daquele dia de domingo, foi péssimo. Eu fui pro hospital com muita dor, sozinha e passei a noite inteira lá tomando remédio e mais remédio e nada da dor passar; exames e mais exames, nada foi encontrado a não ser uma infecção urinária. Nunca tinha sentido uma dor como daquelas em alguma infecção que tive. Apesar dessa ter sido só um alerta, foi uma luz vermelha que acendeu no meu painel, algo não tava certo...
Depois disso foi meu sistema nervoso. Todo mundo já sabe que eu tenho depressão, mas o mais difícil pra eu assumir é quando tenho alguma recaída ou piora no meu estado psíquico e foi isso que aconteceu ainda no mês de julho. A insônia me atacou pesadamente e a ansiedade também, a ponto do calmante que eu tomo não funcionar mais quando a taquicardia aumenta do nada e lá se vão +2 remédios pra lista, sem contar com as dívidas aumentando né?! Quem tem esse tipo de dependência química e financeira como eu, sabe exatamente do que eu tô falando, o quanto é chato ter que depender de algo e de alguém que você não esteja no controle.
Junto com o sistema nervoso, veio o desequilíbrio do meu sistema digestório, os dois andam sempre pareáveis, sabe por que? Uma vez, um nutricionista meio sem noção me disse uma única coisa com noção: depressão tá muito ligada a como o seu sistema digestório funciona, porque um estômago que funciona bem e um intestino que funciona bem, nunca te deixam de mal humor. E ele tá certo! Entretanto, eu tenho gastrite nervosa (pra variar) e o intestino não digere bem os alimentos, daí eu fico inchada e totalmente insatisfeita com meu corpo, me sentindo pesada e uma baleia de tão gorda.
É muito estranho pra mim não ter o controle das coisas, é muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Fico me perguntando muitas coisas, fico questionando coisas que antes nunca se passavam pela minha cabeça. Agora a pouco ouvi um grupo de pessoas cantando "parabéns pra você" e lembrei que ainda sou uma das pessoas que faz parte do pequeno percentual de isolados da "quarentena" aqui em Fortaleza. Essa semana eu determinei que não vou sair de casa, talvez pra poupar minha cabeça, meus sentimentos, minha energia ou até eu mesma, ou quem sabe as outras pessoas de verem as falhas da minha energia. Com tudo isso acontecendo, eu me vejo as vezes em situações solitárias, onde converso comigo mesma porque sei que só eu e eu podemos resolver tais desavenças, tais conflitos, tais desentendimentos com o passado para que ele não afete meu presente e sabe, nem sempre é fácil, mesmo que eu já tenha feito tanta terapia na vida.
Mesmo com anos trocando ideias, cotidianos, recebendo conselhos ou palavras as vezes ensaiadas, estudadas, tem horas que não dá pra cuidar dessas "plantas" que a gente traz semeadas lá do consultório. Tem planta que morre no caminho enquanto a gente sai chorando, tem planta que não entra na porta, tem planta que até chega viva em casa, mas que a gente não tem força suficiente pra conversar depois de dar aquela aguada. E tem quem não entenda nosso esforço pra poder sequer plantar algo dentro de um jarro.
Lidar com tantas mudanças de uma vez só nem sempre é uma total felicidade, a gente chega a ter mesmo uma pane no sistema, o importante é a gente tentar colocar tudo em ordem pra não deixar o nosso próprio barco afundar, porque pode ser que não tenha quem nos salve. Quem um exemplo? Fui remarcar minha terapia e só tem pro dia 1º de setembro, vou passar umas 3 semanas sem ver a psicóloga e não sei como vou reagir até lá, se até quando tento meditar causo problema.
Eu penso em quanto tempo eu já passei correndo atrás de estabilidade emocional, em me manter em forma, em manter meu coração no compasso certo sem medicamento, sem pensar negativamente, tentando esquecer o meu passado, perdoando meus pais, fingindo que nenhuma discussão que me destruiu me deixou em pedaços, tentando em reconstruir a ponto de recomeçar, não do zero mas sim com minhas experiências, mas sem ter que ficar recordando de todo o mal. E me pergunto de novo, será que mereço tudo o que tá acontecendo agora, seja isso bom ou ruim? Acho que ninguém vai entender o que eu sinto quando um movimento me causa dor, desconforto, desconfiança, medo... O sentimento de abandono me persegue e quando penso nisso, seguidamente me vem o pensamento de que seguir sozinha é o melhor que tenho a fazer; eu não sei se isso é uma autossabotagem, autodefesa ou uma voz interior dizendo o que eu devo fazer, ou uma autopiedade porque muitas vezes já vi como fico horrível chorando de frente pro espelho. De uns tempos pra cá, o que mais me vinha a cabeça era fugir, fugir pro mais longe que pudesse, já que morrer nunca deu certo quando eu tentava e vagamente essa ideia ainda me vem em mente.
O que uma pessoa pode fazer com 2 graduações, poucas experiências de trabalho e muitas experiências de vida? Ninguém iria querer me pagar porque escapei de Z relacionamentos e estou "forte", "de pé". Eu acho que as pessoas tentam ver coisas em nós que muitas vezes nós não somos exatamente. Nós podemos ser um sistema, mas como todo e qualquer sistema, não vivemos sempre bem, precisamos de uma manutenção e diferente de um sistema, nós não podemos ser usados por qualquer pessoa, não podemos deixar esse desastre acontecer. O que realmente merecemos é ser tratados como gente, de carne e osso onde a qualquer momento podemos cair e podem nos derrubar e X pode levantar, mas Y tem o direito de ficar no chão até se sentir estável para se reerguer. Não somos todos iguais, nem sempre iremos nos entender e nem temos que, as vezes tudo o que queremos é respeito pelo nosso sentir, porque é tudo o que nos resta depois de tantas batalhas vividas anteriormente até chegar numa vitória. Até chegar nela, muito nós iremos quebrar, falhar, chorar e ter que se restabelecer num "sistema" que é só nosso, nenhum é igual. Nenhum. E esse talvez seja o segredo de tudo, o diferente nos fazer ser tão únicos, a ponto de faltar o controle e alguém estar nos admirando mesmo assim.
Assinado, Joice.
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