Dos tempos que não voltam mais

Eram bons os tempos em que eu era inocente.
Inocente quando eu tinha sonhos, quando pensava que minha cidade era a Terra, que era só aquilo e era ali que eu ia viver e ao mesmo tempo, ficava me perguntando enquanto andava nas calçadas de onde eu vim e porque eu vim parar ali.
Anos foram passando e as brincadeiras já não tinham graça, interação com pessoas também pouco me agradavam e o que era pra ser extrovertido, não saía de dentro do meu quarto ou da minha própria mente. Os livros eram meus amigos, os cadernos de estudo e os livros de geografia e ciências. Minha irmã me batia e eu não podia revidar, era a irmã mais velha e por mais que digam "você está errada em não fazer nada", eu já bati uma vez e ela se fingiu de morta, fiquei traumatizada. Desde então nunca mais bati nela.
Dizem que os mais velhos tem que ser exemplo para os mais novos e até hoje fico pensando que eu nunca fui um exemplo bom pras pessoas. Saí de casa na primeira oportunidade que tive, queria viver uma vida nômade e mudei de bairro inúmeras vezes, mas de cidade só 1x. Não sei se ainda tenho força suficiente para tamanha mudança.
Namorei vários homens. Não é algo que eu me orgulhe dizer. Arrastei um rapaz de São Paulo para visitar Fortaleza e outro rapaz para visitar minha cidade natal. Quando se é novo, fazemos loucuras que com mais maturidade ficamos pensando o quão aquilo foi perigoso e louco. No meio de tantos relacionamentos que não deram certo, que eram só amor platônico e quebradas de cara, eu quase casei. Talvez esse tenha sido o único momento em que alguém me deu uma aliança por eu ser quem eu era. Ela era simples e linda, prateada como eu sempre quis e com uma linha dourada, senti e sinto falta dela, do relacionamento acho que não. A sensação de você ser querida, desejada, amada, mexe muito com os sentidos do corpo e da mente. Tudo está completamente conectado e por mais que as pessoas achem que razão e coração sejam diferentes, no fundo há uma conexão. Seguir somente a razão massacra o coração, seguir o coração maltratada a razão. Equilibrar os dois é um trabalho de equipe de 1. Força.
Nesta vida eu já me apaixonei demais, já fui rejeitada, já fui um robô, a mais feia da escola, uma baleia, uma leitora voraz; cheguei a quase não ter cabelo e ter mais barriga que cabeça e os polegares das mãos "deficientes". Já fui enganada, já quebrei a confiança de quem mais amava e até perdi pessoas que me amavam verdadeiramente. Eu já dividi barco e remei sozinha, diversas vezes e cansei, é sempre uma luta não ter que cansar, mas quando se cansa a gente só quer parar e ficar sozinho descansando. Já tentie realizar sonhos e falhei, e em momentos de falha já consegui realizar sonhos. A vida parece contraditória e realmente cheia de oportunidades que as vezes parecem invisíveis, mas são só os nossos olhos cegos por coisas supérfluas. 
Descobri que Deus não me abandona, nunca. Seja dentor de um ônibus, andando na calçada, levando um escorregão numa poça de lama ou ao chegar atrasada em algum lugar. Eu tenho sorte, mas não a teria se não existisse Deus. Eu já tive medo de ficar sozinha na vida e isso já me deixou em momentos vulneráveis e ameaçadores com outras pessoas, dependente emocional, carente e ao mesmo tempo tentando controlar possíveis fins. Quando a hora do fim chega, não podemos controlar, ela simplesmente acontece mesmo que sem sua vontade e o que se pode fazer é aceitar. E hoje tudo o que não depende só de mim pode acabar que eu respeito.
O respeito é uma dádiva que poucos tem, que muitos confundem com desprezo, desdém. O silêncio confunde as pessoas, mas pode ser só um ato de respeito. Eu sei que muitas vezes eu não respeitei meu próximo pensando no meu próprio bem-estar, mas o mundo não gira em torno de mim, cada um tem seu mundo e isso requer cuidado próprio de cada um com seu mundo. Eu cuido do meu, você cuida do seu e se você faz algo que não me agrada, eu respeito. Se isso chega a me incomodar, eu me afasto, é simples. 
Uma vez ouvi dizer que a vida é simples, o ser humano que complica tudo e realmente é. Vivo buscando entender onde posso simplificar as coisas e hoje em dia penso que a melhor forma de reavivar nossos sentimentos é se encontrando com eles, sempre que possível. Não esquecer de quem a gente ama e manifestar nosso amor, deixar ir quem quer ir, fazer as atividades diárias necessárias, limpar o que está sujo, organizar o que se está bagunçado. Quando se chega à fase adulta as coisas arrumadas e limpas trazem um ar de paz e sossego sem medida e com meus quase 29 anos, não sei o que fazer com a casa sempre suja. É de partir a cabeça ao meio, mas não depende só de mim.
E eu devo confessar, é ruim ter amigos e não poder conversar tudo o que eu quero conversar. Tenho a impressão que se for falar tudo o que sinto, vão me achar uma idiota ou reclamar do que eu tenho pra falar, porque na minha cabeça parece redundante e também penso em não ter esses assuntos repetitivos na minha cabeça, mas nem sempre consigo. É doloroso, requer medicamento, requer calma que eu mesma não consigo me dar e aí começo a me questionar sobre a paz que tenho, se é suficiente. Se estou feliz de verdade, se faço meu próximo feliz, quem vive comigo feliz, meus pets, minha família, meus amigos, se torno meu trabalho suficiente para as expectativas da minha chefe e em breve, o aprendizado das aulas. 
Eu sinto as coisas mudando aos poucos e algumas não me agradando, outras me causando ansiedade. E não consigo saber como consertar o que está errado. Mas bem, é um texto que talvez eu leia depois com boa parte das coisas resolvidas. Ainda sinto falta da minha aliança.

Assinado, Joice.

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