Notícia do fim do mundo

As últimas semanas tem sido uma correria só e eu sei que não tem sido assim só pra mim. Mas hoje resolvi falar de mim.
Alguns dias atrás eu vinha sentindo um entalo abaixo da garganta e achei que, pelo meu emocional estar abalado, poderia ser meu psicológico devido os últimos acontecimentos. Mas minha mãe não deixava de dizer para eu ir ao hospital ou um clínico e relatar o que estava acontecendo comigo. Bem relutante com a ideia dela eu estive, até não aguentar mais essa sensação de que tinha uma laranja no meu esôfago. Chegando no clínico, ele examinou minha respiração, coração, conversei sobre os últimos acontecimentos e pasmem, ele pediu o telefone da minha psicóloga. Eu não sei exatamente o porquê, mas eu dei. Perguntou os medicamentos que eu estava tomando para depressão e ansiedade, eu passei o nome e as miligramas. E logo depois disso, me direcionou a um otorrino e gastroenterologista, com um monte de guias pra fazer exames de sangue e um rx do tórax. Lá vou eu fazer esse monte de coisa, mas pra mim tudo normal, porque já é uma rotina minha tirar sangue, enfiar agulha no braço e blablabla.
Os exames saíram rápido até, o rx no dia seguinte e os exames de sangue na semana seguinte. As consultas já estavam marcadas e os dois profissionais na mesma clínica (Sorte? Azar?). Entrei em um, saí e fui pro outro. Ambos me mandaram fazer mais exames, alguns em laboratório fora da operadora do plano, 1 tomografia e 1 ressonância. As coisas estavam indo para um rumo que eu não imaginava. Eles suspeitavam de um nódulo, um tumor e estavam procurando resquícios dele. Além disso, o otorrino pediu uma laringoscopia e a gastro uma endoscopia. Eles estavam atirando pra todo lado, aquilo não era muito normal para minha rotina médica.
Até então não tinha avisado nada à minha mãe. Nos exames de sangue ainda constava aquela velha e boa amiga anemia, só que um pouco mais acentuada. Nenhum médico passou vitamina ou ferro para eu tomar, eles só estavam preocupados em achar o problema, ou “os” problemas. Ninguém sabia se era só um tumor ou dois. Fiquei em uma ligação mais estreita com o plano de saúde, os médicos queriam saber o que poderia ter ocasionado aquele “problema” que eu tava tendo e não sabiam qual tratamento me receitar, então faz exame e mais exame... Era um tumor, só um mesmo, de mais ou menos 2 centímetros e eu lembrei do cisto que tive no ovário, que foi do tamanho da moeda de 1 real, não sei se é o mesmo tamanho mas um cisto no ovário e um tumor no esôfago tem efeitos completamente diferentes no corpo humano, no meu corpo.
Eu tive que contar pra minha mãe que tinha sido encaminhada para um oncologista, com todos os exames e papéis já em mãos, para poder marcar uma possível biópsia e de imediato começar o tratamento. Ela chorou, chorou e disse que viria para fazer a biópsia comigo. A biópsia correu tudo bem, passaram-se os dias e eu não tava tão ansiosa pra saber o resultado, mas ele saiu. O tumor era maligno. Não fazia sentido eu sentir aquele entalo todo dia e não ser algo ruim, ia ser irônico se fosse benigno porque estava lá todo dia me fazendo mal. Então eu fui pro oncologista sozinha (minha mãe já tinha voltado por questões de trabalho). O dr. Matheus Torres sempre foi um cara legal, ele parece o Wilson do dr. House então sempre que ia falar com ele, me sentia em casa. A gente já marcou as primeiras sessões de quimioterapia e ele foi me explicar minha dúvida mais que cruel: meu cabelo vai cair? Ele disse que por enquanto não ia cair, que a primeira bateria de quimio não era tão agressiva, que só seria necessário se o organismo não reagisse e matasse o tumor. Até ter um resultado, muita paciência. Agora eu vou ter que me despedir do meu trabalho e da faculdade por um tempo, da música e da especialização. Ou talvez não, dependendo de como a quimio vai ser com meu corpo, minha disposição. Até lá eu sei que vou ter que sair do trabalho porque preciso de tempo pra estar no hospital e quem sabe fazer amizades com pessoas carecas. Será que sou boa de fazer amizade ao menos no hospital? Será que eu vou sair de lá viva, careca?
Não sei. Só sei que essa seria uma boa notícia do fim do mundo pra mim. Essa história não é real, mas poderia ser. Existem outras pessoas que se encontram mal como o exemplo que eu dei aí, como se fosse eu ai. Só com uma notícia dessa que meu mundo poderia se mexer, porque no momento tem muita coisa no automático e talvez isso seja ruim (acho que é, né, infelizmente). Mas faz parte da vida. Todas as vidas são diferentes umas das outras. Qual seria a sua notícia do fim do mundo?

Assinado, Joice.

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