O lado oposto da calçada

Segunda-feira é um dia tããão besta, é tipo um domingo nº 2.
Hoje foi um dia praticamente normal, mas novo para mim por ter tempo de fazer as coisas que eu tenho e devo fazer. Independente do que eu vá fazer no dia, a Ártemis (minha dog) sempre tem o horário dela para passear e eu como tutora, tenho o dever de ir com ela. Mas pra ela, hoje, foi um dia atípico.
Ártemis na hora do passeio adora uma rotina, andar sempre do mesmo lado da calçada e quando chega perto de um local mais movimentado ou com barulho, ela quer voltar e eu acabo mudando de calçada pro passeio durar mais tempo. E então vamos voltando pra casa. Só que hoje ela decidiu fazer diferente.
Hoje minha cachorrinha decidiu mudar os costumes dela, se dar uma oportunidade de conhecer novos horizontes, mesmo que esse horizonte fosse o lado oposto da calçada que ela costuma sempre andar e cheirar. Antes de procurar adestramento, confesso que eu era meio bruta e puxava ela pra onde eu queria que ela andasse e ela ia cheia de medo e receio. Depois de aprender muita coisa sobre esse serzinho que vive comigo, eu deixo ela me levar pra onde ela quer e hoje a noite ela me levou pro lado que, por mais de 1 ano, ela tinha medo de andar. Andou calmamente, cheirando o que podia cheirar, olhando pra cima procurando o guindaste que funcionava ainda às 21h. A gente foi até a esquina, no final da rua e mesmo sabendo que ela ia passar pelo portão de um sítio que tem 2 cachorros raivosos, ela foi de boa.
Isso me fez pensar profundamente, mesmo que em poucos minutos de passeio, que por muitas vezes nós nos deixamos levar por nossos medos por um tempo que as vezes não conseguimos me dir. E perdemos muito, por perder tempo. Perdemos por ter medo, perdemos por ter receio de "cheirar" que lugar é aquele, por se negar sentir uma nova sensação, por se fechar para coisas novas. Talvez a Ártemis não tenha noção do quanto me ensinou nessa quase 1h que ficamos passeando, ouvindo os carros passando, as motos, as pessoas também e ela tem medo de pessoas! Medo de pessoas e animais, mas mais uma vez me surpreendeu quando saímos de casa e ela deixou os vizinhos da frente passarem a mão na cabeça dela. O meu bebê tá crescendo, perdendo o medo e me ensinando mais do que eu posso ensinar a ela. 
Escolhi e estou mais uma vez me formando para ser alguém melhor na vida e trazendo essa formação para minha vida pessoal também. O coordenador do curso encaminhou umas vagas para professores semana passada mas eu pensei "não posso mandar currículo se eu mal entrei na faculdade e ainda não tive uma disciplina de didática para saber como me comportar dentro de uma sala de aula", por mais que eu saiba de muita coisa para transmitir aos meus alunos. Tá cedo ainda pra tentar uma vaga de professor, mas hoje, eu me permiti ser "aluna" e aprender com minha cachorrinha. Eu me permiti entender que o medo pode deixar nosso rabo entre as pernas e fazer com que a gente esqueça nossas vontades, reprimir nossos sentimentos, apagar sonhos e esquecer que ir por um caminho que a gente já tanto quis ir e teve medo, pode nos fazer perder momentos de descoberta, de admiração, de conhecer novas pessoas, de fazer nossa história maior e nós mesmos, pessoas maiores.
Não sei quanto tempo você perdeu, pensando que aquela sensação terrível poderia se repetir e por um impulso da sua consciência, você não se permitiu mais. Mas se a vida te deu uma nova chance, aproveite-a. Se todos os dias, você escolhe o mesmo caminho por conveniência, por comodidade, pense um pouco e mude. Mude porque não são todos os dias que podemos sair de casa, mude porque não é sempre que podemos encontrar aquela pessoa que nos deixa confortável, mude porque não é sempre que vamos encontrar carinho nesse mundo que ora parece tudo dar certo, ora parece tudo sombrio e nós? Muitas vezes nós só podemos aceitar calados mesmo, porque nem tudo depende de nós. Mas se algo depende de você para mudar, para dar certo, para tentar fazer dar certo, vai. E se tiver medo, vai com medo mesmo. Os passos podem ser pequenos, podem ser aos poucos, mas o cheiro de algo novo é tão bom, conquistar novos espaços é tão promissor que no final das contas, a gente fica se perguntando "por que eu não tentei antes?", ou então "que bom que eu me permiti".
Que bom é se permitir. Mas se puder, não se demore.

Assinado, Joice.

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