Por favor, por favor

Minha mãe tá aqui e tá colocando filmes em dia. Começou a assistir "Comer, rezar e amar" e tá continuando. Parece que a moça do filme se divorciou e tá fazendo uma viagem pra Itália, e aí ela comentou algo que me chamou atenção:

“Há uma ótima piada italiana sobre um homem pobre que vai ao templo todos os dias para orar a um santo. Reze para a estátua: Querido santo, por favor, por favor, deixe-me ganhar na loteria. No final, a estátua desesperada ganha vida, olha para baixo e diz ao homem: Meu filho, por favor, por favor, compre um ingresso."

Se a gente parar um pouco pra pensar sobre a vida, é isso mesmo que acontece. A gente pede tanto mas pouco proporciona momentos pra que o que se pede possa acontecer, né? Nos meus momentos de introspecção, eu escrevo muito, mas não tenho pedido nada ultimamente, não com a esperança que alguma divindade leia através de capas de caderno ou bolsas que eles ficam guardados e me atendam. Eu tenho escrito pra deixar registrado momentos de lucidez e insanidade (mais lucidez que insanidade nos últimos dias). Não posso viajar pra Itália, mas como já fui à Trancoso esse ano, tô pensando em ir para outro estado, ainda com o intuito de conhecer, me dar o bom direito que tenho de ir e vir e apreciar o que o Nordeste tem de bom, mesmo que sozinha. Talvez eu e a moça do filme tenhamos algo em comum: estávamos cômodas em uma casa, em um relacionamento não tão bom, em um emprego também nada mal e do nada uma chave virou na cabeça... Dei fim ao relacionamento por não ter futuro, entrei pra licenciatura ano passado, fui demitida por problemas financeiros da minha chefe e mesmo que não tenha tantas condições pra extravasar, saio vez ou outra, faço umas tatuagens, coloquei uns piercings e já fiz o meu primeiro vôo de vários. E estou seguindo na carreira da minha vida, apesar de alguns percalços que já são imaginados pois professora, né? Nada mal.
Eu fico pensando sinceramente que não tenho mais nada o que pedir senão saúde, que eu continue estável e que o plano de saúde deixe de ser negligente e me deixe fazer minhas terapias em paz. Acho que isso tem me deixado bem por muito tempo, afinal, para alguém que costumava estar sempre acompanhada amorosamente, estar há mais de um ano sozinha é raro. Eu nunca fui de meter o louco na vida e me distribuir, sempre gostei de manter companheirismo e uma boa parceria pra fazer as coisas boas da vida, contudo os tempos atuais não tem me proporcionado nada disso e olha, odeio forçar coisas, odeio mesmo. É algo que tenho praticado depois de mudar o status, porque procurei tanto, por quase dois anos que as coisas se encaixassem, mas só eu fazia isso. A vida solitária só vale a pena quando você é só você com você mesmo (acompanhado é broxante, perda de tempo).
Venho guardando os meus "por favor", analisando bem pra onde direciono minhas energias, pra quem eu devo falar sobre meus sentimentos e em que situações eu devo ou não sorrir. Talvez eu esteja me policiando demais? Não, eu só tô cansada de ser ditada como boazinha, ou acharem que eu sou boazinha o suficiente pra me fazerem de trouxa, o que já aconteceu demais na última década. A gente cansa e talvez o universo também canse de receber pedidos que ele sabe que as pessoas não vão aproveitar se forem cedidos, e é por isso que elas não recebem o que pedem. Acho que é isso que deve ser feito, se autoconhecer pra saber o que realmente devemos ou não abrir a boca pra pedir e ter mais consciência de saber que temos que agir mais por conta própria, tomar mais iniciativas, saber de fato o que tem nos feito mal e sair dessas situações/lugares/vidas que não compensam permanecer. E as vezes vai ser doloroso e estranho, mas é um bom favor que fazemos a nós mesmos. 
Atenção ao que pedir e tomar mais atitudes. Ou não tomá-las.

Por favor, por favor, consciência e coração.

Assinado, Joice.

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