No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma sombra.
Tinha uma sombra no meio do caminho.
Não era uma sombra qualquer,
mas aquela maldita sombra.
Aquela sombra no meio do meu caminho...
A cidade parece tão grande as vezes, que mal me passava pela cabeça ter que suportar tal desconforto com certa frequência. Já não bastasse o tempo de omissão que causei à mim mesma desse assalto, o temor de reencontrar meu algoz com a expressão mínima de arrependimento se tornou minha mais nova sentença. Não sei quanto mal eu andei cometendo por essa vida ou até mesmo as anteriores, quantas vezes fui maldizente, mas toda vez que essa sombra transpassa meu caminho, é como se uma faca navalhasse minha consciência...
Talvez demore pra esquecer esse acontecimento, que se alimenta da minha paz de espírito, trazendo recordações nada especiais de um ano atípico.
Jamais esquecerei os dias de luto, as dores latentes no peito esquerdo que se espalharam pelos pulmões, me deixando sem ar. Completamente sem ar. E chocando-me contra aquele gélido chão, me apaguei por um momento (quem dera fosse por todo o além do meu limite...).
Nunca me esquecerei que no meio do meu caminho tinha uma maldita sombra, onde repousei minha confiança, minha saúde, meu corpo, achando ser um lugar de remanso. E foi o contrário...
Nunca me esquecerei que o resto de inocência que eu ainda tinha foi usurpado e tal carrasco se mantém livre, como se fazer o que ele fez fosse normal. E o que me resta? O que eu faço com esse peso?
Bati em uma porta e fui amparada pelo abismo. A coexistência é uma dor cansada, as lágrimas ficam presas perto da garganta e a fala não se manifesta.
O que sobra do que me foi arrancado? Sobras. E eu me sinto um ser humano ruim, por estar em trapos pra mim mesma, sem sono, sem fome, enjoada, insuficiente, incapaz de ter percebido os sinais quando o que eu mais sei na vida é perceber, é observar, é examinar, explorar...
Como eu tenho coragem de ficar de frente à mim e dizer que sinto muito por não me proteger?
O que eu posso ser pra alguém hoje, se ainda sinto a presença dessa sombra que abomina meus passos de volta pra casa?
O que eu posso ser pra alguém hoje, se ainda sinto a presença dessa sombra que abomina meus passos de volta pra casa?
No meio do caminho tinha uma sombra,
aquela sombra, maldita sombra.
E não consigo correr ou bater asas,
a sombra me roubou, me pragueou
no meio do meu caminho...
Assinado, Joice.
Comentários
Postar um comentário