Sobre a morte

Quando chegamos à vida, a um plano terrestre, raramente sabemos o que viemos fazer aqui. Eu mesma lembro que quando era criança caminhava pelos batentes do mercado central da minha cidade natal e pensava "de onde eu vim?" ou "o que eu vim fazer aqui?". Mas por ter pouca idade e ter poucos recursos para uma pesquisa mais aprofundada, eu não tinha resposta nenhuma e o que me restou foi o óbvio: viver.
Com o passar dos anos, eu via certas coisas acontecendo, sentimentos surgindo, algumas indagações estranhas na minha cabeça e uma dificuldade de expressar os vários sentimentos que eu sentia, principalmente os negativos. E eu fui ficando deprimida, retida, e vieram aquelas vontades de qualquer pessoa que se sente sozinho (mesmo rodeado de pessoas) tem vontade de fazer: sumir, ou morrer.
Talvez tenha sido nesse momento a primeira vez que pensei algo que poderia ser lógico naquele momento e que eu já havia ouvido falar por outras pessoas ao meu redor, mas não tinha absorvido tanto quanto deveria: "a única certeza que temos, é a morte". E sim, é verdade, morrer é a única certeza que nós temos. Chegamos aqui com algum propósito, mas pelas leis espirituais não nos lembramos, então entre aspas, podemos dizer que "caímos aqui de paraquedas". A partir daí, temos que nos virar pra nos expressar, manifestar nossas dores e alegrias, falar, socializar, estudar pra poder ler e escrever e evoluir de uma forma favorável, para que num futuro a médio e longo prazo não passemos dificuldades financeiras e com o tempo descobrimos também que a sociedade que nos faz evoluir, também pode nos fazer regredir psicologicamente, mentalmente e que por acaso, podemos também ter algum problema de saúde que vá mudar nosso destino, trazer à nós algumas situações em que devemos abdicar de alguns movimentos físicos para podermos melhorar. Mudamos, mudamos muito, seja por nossa conta ou por conta de terceiros (leia-se pai, mãe, demais familiares que tentam nos persuadir a fazer sempre o que querem, a sociedade e a mão invisível do capitalismo).
A gente faz tanta coisa todo o dia, tem tantas obrigações e responsabilidades, que acabamos nos esquecendo de que o destino de todos nós (praticamente todos os seres vivos), é morrer :) E o que temos feito, antes desse episódio da nossa vida acontecer?
Olha, a gente num tem como saber exatamente quando vai acontecer, mas vai. Alguns conseguem mudar o mundo, outros nem se importam com ele, contudo o que vale a pena é: até chegar o momento de "partir", o que você tem feito por si? E pelo próximo, já pensou o que você pode fazer por alguém que não tem os mesmos recursos e saúde que você tem?
Ontem, uma pessoa que contribuiu significativamente para a minha vida profissional, pro meu sonho, deixou este plano terrestre e acho que por mais que não tenha se passado pela cabeça dessa pessoa, a pergunta de "será que cumpri minha missão no mundo?", ela sentiu no coração, naquele instante, que sim. Ela cumpriu uma grande missão, não só pro mundo dela, mas pro mundo de várias pessoas. Talvez o que eu escreva aqui não vá dizer nem 1% do que essa pessoa foi, mas aquela história de que nossos pais nos orientam pelo melhor caminho, talvez não valha muito no final das contas, porque a maioria das pessoas que tem me incentivado e me motivado na profissão que eu sempre quis, foram terceiros. 
Eu sempre quis ser professora e toda vez que tentei correr desse caminho, me senti insatisfeita e quando comecei a licenciatura e pude começar no magistério na primeira escola, eu vi que realmente era aquilo que a minha vida seria útil: ensinar. Ensinar e ao mesmo tempo aprender, porque é o que faz minha vida valer a pena dentro de uma sala de aula, pra mais de 40 pessoas, que nem sempre vão estar interessadas, mas eu estarei lá por elas, e pra ajudar no futuro delas. E essa pessoa tão querida também foi meu apoio, meu e de muitos vários.
Otacílio, você não está mais de corpo presente, mas vive na vida de centenas de pessoas, milhares. E se não fosse por você, pela sua missão no mundo, eu talvez nem tivesse começado, eu nem teria percebido o quanto eu consigo, o quanto eu sou capaz. Obrigada por ter sido resistência, por ter sido tão dedicado à educação. Tanta gente vai sentir saudade de você, mas em momento algum deixaremos sua existência passar despercebida, porque muitas vidas foram impactadas, inclusive a minha. E eu vou lembrar sempre, quando eu tiver em sala de aula, que a educação vale a pena. Por você.

Assinado, Joice.

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