A primeira estrela
Talvez tenha se tornado insignificante como a gente olha pra janela todos os dias quando acorda, quando senta no sofá ou na frente da TV ligada, quando vai ver alguma gritaria na rua ou barulho de movimento anormal, porque já tem tanto tempo que estamos trancafiados em casa, que já virou costume nem ligar tanto pros elementos que nos rodeiam em casa.
Entretanto, já tem uns dias que percebo o quanto a janela tem sido um item melhor que qualquer eletroeletrônico que nos faça ver o mundo alheio. Acho que o ser humano nunca olhou tanto pro céu, tanto pro alto como agora, assim como tem olhado pro teto pensando N coisas, como quando vamos poder sair na rua, transitar como antes fazíamos monotonamente na nossa rotina de todo dia. Ir pra faculdade, ir trabalhar, ir resolver os famosos "buchos" no banco, no centro, no supermercado, na casa lotérica e pegar aquela fila maravilhosa que nos causava aquela impaciência. Como a vida é engraçada, ela tá nos cobrando exatamente o que menos nós tínhamos diariamente: Paciência.
Esse domingo foi dia das mães e quantas colegas e amigas vejo que já tem filhos ou estão grávidas? Diversas! E eu percebo que tem uma frase que não sai da boca delas: TEMPO, VAI DEVAGAR.
Já perceberam que tem dias que o tempo simplesmente não tem passado? Que ele estacionou legal, parece que não sai do lugar, que só o relógio funciona mas nossa cabeça, nossa mente, nossos projetos não vão mais a frente, não conseguimos ter foco ou concentração pra realizar NADA? Existem uma massa de profissionais de saúde mental que estão dizendo em jornais, perfis pessoais e profissionais nas redes sociais que isso é totalmente normal, que o indivíduo foi feito pra correr, freneticamente pra resolver sua vida, pra competir, pra realizar suas atividades, encher sua cabeça cada vez mais de compromissos e no fim do dia ter motivos pra respirar de alívio por ter realizado tudo ou reclamar que algo ficou pra amanhã. Agora nós temos uma eternidade em dias da semana pra fazer praticamente o que quisermos dentro de casa, online, pulando, se exercitando, criticando, conversando sozinhos ou até mesmo acompanhados, mas sem parar. A vida não tá parada, mas nós só damos valos quando estamos lá fora. E lá fora raramente olhamos para o céu da mesma forma que olhamos quando estamos em casa, com uma janela aberta tentando que um pingo de vento entre por ela pra esfriar o calor dos dias quentes.
O dia amanhece, o sol atinge o seu ápice no céu e depois se vai, e surge a primeira estrela. Mais uma noite começa e as vezes você se alivia por ter feito muito, se sente inútil por não ter feito muito. Entretanto é mais um dia que vai embora. Os dias continuam indo e vindo. Imagine que existem pessoas nesse momento que nem sabem quando vão ver o céu de novo através de uma janela; imagine que a vida é incerta pra várias pessoas, famílias que nem tem janela em casa; imagine que existem pessoas que agora estão sem consciência alguma pra saber que horas são, porque estão entubadas, sem conseguir naturalmente respirar, precisando de aparelhos; imagine que tem gente com medo de não ter um amanhã pra estar em casa, porque não tem um leito de UTI vazio pra se internar e você está em casa, que sorte!
Perceba como o ambiente já melhorou com a redução de carros rodando durante o dia, o céu tem estado mais limpo pra gente ver a primeira estrela aparecer e sabe o que significa? Estamos saudáveis, estamos em casa, temos oportunidade de respirar espontaneamente, temos de alguma forma força pra procurar fazer o que nos é designado mesmo que dentro de casa. Ainda existe aquela faisquinha de esperança que as coisas melhorem. Mantenha sua primeira estrela guardadinha dentro
de você, ela é importante, ela te deixa viv@ e vai ser assim até todo esse confinamento acabar.
Assinado, Joice.
Comentários
Postar um comentário