O tombo

Eu tombei e machuquei o cotovelo. Ironicamente estou com dor de cotovelo agora.
Metaforicamente não é algo que eu tenha sentido ultimamente. Apesar de toda essa quarentena, eu gostaria de estar sentindo alguma coisa, algo mais que encontrar pessoas, adivinhar quando elas estão sorrindo, como é o sorriso delas por trás das máscaras e conseguir segurar as mãos de algumas delas, mas acho que isso vai ser algo um pouco restrito quando as coisas forem voltando ao normal. 
O que é bom a gente pensar, acima de tudo, é não ir com pressa. caso contrário corremos o risco de sentir dor, que nem o cotovelo machucado. Sabe, talvez não seja tão recomendável ficar olhando se a pessoa tá online naquela rede social, se ela visualiza o que você posta nos stories, se ela curte o que você publica, ou até mesmo fantasiar coisas. Eu sei o quanto isso é difícil, entretanto hoje em dia você tem que pensar em você primeiro. Isso de pensar em si mesmo nunca foi egoísmo, principalmente quando se trata de bem-estar e estabilidade emocional, ou então quem vai arcar com todas as consequências é você mesmo, correndo atrás de terapia pra fazer, quem sabe até psiquiatra se as terapias não resolverem, terapias alternativas como meditação ou pintura e olha, nada contra fazer qualquer uma dessas coisas, isso expande muito nossos conhecimentos, mas fazer isso porque você excedeu seu próprio limite por uma ilusão, é trágico.
Andei pensando sobre isso nesses dias, sobre questões afetivas, sobre as pessoas espelharem em nós as expectativas que elas criam e me recordo do que meu psicólogo falou na última consulta que tive com ele: Joice, você pode não ter dado certo com essa pessoa, mas pr'aquele momento, ela foi a pessoa certa pra você. Temos nossos momentos, sejam de paz, de descobrimento, redescobrimento, de alegrias, de excentricidade, de sentimento de vida nova, página virada e com isso, experimentamos novos ares, novas amizades, conhecer novas pessoas e lá estão elas, aquelas dezenas de pessoas que tem o mesmo pensamento que você, gostos similares aos seus e parece que é tudo tão evidente, que vai dar tudo certo, que tudo vai se encaixar. Mas deixa eu te contar, nem sempre é assim, nada é perfeito. Hoje eu tava rolando o feed do instagram e um amigo postou algo filosófico que dizia:

" Quando nos apaixonamos por alguém, por que só notamos suas virtudes? O amor verdadeiro, para Zizek, é o oposto. É reconhecer a imperfeição e aceitar a pessoa com todas as suas falhas."

Em uma pesquisa remota que fiz, essa frase é de uma série chamada Merlí, e esse Zizek também diz mais sobre o amor.

" Amor, o verdadeiro amor, em sua plenitude, espontâneo, não é aquele baseado em uma fantasia romântica e ingênua."

Digamos que ele é bem realista, quando fala sobre imperfeições e não envolve tanta ingenuidade como pensamos. E de fato, não existe. As vezes o ser humano acha que sim, mas com tanta liquidez presente nos nossos dias, as coisas tem sido tão momentâneas e robóticas, que pouco as coisas duram. As relações não são feitas pra durar. Eu particularmente não penso assim ainda, apesar de já ter sido vítima de lances casuais. Quem sou eu pra aconselhar algo? Entretanto, não recomendo. Se você rema contra a maré da liquidez, continue remando, o mundo precisa que as pessoas sejam pé no chão mas o coração precisa de asas, porque quem tem a consciência dos fatos atuais, sabe a real hora que pode voar e com quem pode voar, ao mesmo tempo que sabe a hora de colocar os pés no chão. É por isso que falo sobre as redes sociais, sobre a desilusão. Em resumo, é estar atento aos sinais, ser cauteloso mesmo que o mundo peça pra você ser impulsivo, mesmo que a maioria das pessoas ao seu redor conspirem pra que você siga o "carpe diem"... "Aproveite o dia", "aproveita, fica com aquela pessoa, ninguém sabe quando vocês vão se ver de novo", "vai lá pegar el@ el@ tá dando mole, não perde essa". 
A maior parte do tempo, eu penso o quão seria bom voltar atrás e pensar um pouco mais antes de arriscar, pra não me machucar e consequentemente machucar outra pessoa. Entretanto, quando estamos em processo de aprendizado, existem situações que nos põem a prova e nem sempre essas provas são fáceis. Então, o que você puder poupar, poupe. Poupe se iludir com redes sociais, ficar ligado em curtida ou olhada em stories, comentários em fotos, aquela puxada de papo hoje que amanhã as vezes não acontece. Tenha expectativa sob você mesmo, sei que essa palavra e atitude não são nada saudáveis mas acredite, é menos doloroso consigo mesmo, porque se você não atingir suas expectativas, você briga com você mesmo! Você que se cobra (e vai com calma porque se cobrar demais não é saudável, ok?!), você que traça seus objetivos, você que sabe quais são seus planos pra vida, o que você suporta, o que você almeja e o que se encaixar em você, as imperfeições que você conseguir aceitar, essas que vão fazer a diferença! 
Eu nem acredito que um tombo no quarto me fez pensar tanto assim, só não queria de fato me sentir tão fracassada por ter tentado ser feliz de uma forma diferente e não ter conseguido. Contudo, eu sei que tentei, fiz o meu melhor e sabe, não é outra pessoa que tem a autoridade de medir isso em mim, porque cada um é seu próprio termômetro. Sou grata a todos os desafios que a vida me impõe e com certeza eu tento absorver o melhor de cada um deles, acredito que o mundo seria melhor se as pessoas pensassem dessa forma e não houvessem tantas discussões, a ponto das pessoas saírem machucadas ao invés de gratas por aquela vivência. Nós somos os melhores que podemos ser. Naquele momento, foi o melhor que pôde ser vivido, aconteceu o que tinha que acontecer. Se hoje não é mais, é porque outras situações estão sendo processadas para acontecer e o que nos cabe é nos preparar para receber isso, acolher da melhor forma e colaborar pra que a lição seja a mais satisfatória possível. Sem ilusões, sem ressentimentos, sem tristeza, porém, com aprendizados. O resto, é saldo.

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