Sonhos
Já são 64 dias.
Sonhos. Concentração. Foco. Insônia. Remédios. Ociosidade. Melancolia. Solitude. Cabelos brancos. Quilos a mais. Aulass EaD. Notícias boas e ruins. Chuva. Sol. Nuvens. Estrelas. O mundo pela janela...
Estamos todos virados, ao avesso, de cabeça pra baixo. Acredito que são poucos os que se sentem "bem" exatamente agora. Todos nós estamos acometidos de algum distúrbio, seja ele o de paz ou de desespero. Distúrbio de paz porque eu acho que se você for empático, não existe um momento específico que não vai ter 100% paz na sua cabeça, enquanto centenas de pessoas morrem lá fora, eu mesma não me sinto em paz com isso.
Há dias que não tenho pesadelo, há dias que eles se esticam até a hora de eu acordar, há dias em que eu acordo antes deles me consumirem. Sonhos são poucos, a maioria esquisitos e sem pé nem cabeça, mas mesmo assim não considerados pesadelos pois não assustam, são só curiosos, ou estranhos. A concentração foi por água abaixo, isso se um dia eu já tive, juntamente com o foco. Falei com o psiquiatra sobre me receitar um remédio que me ajudasse com isso mas ele disse que não tenho perfil pra isso; o psicólogo reafirmou o que o psiquiatra disse, dizendo que medicamentos pra concentração poderiam ser um gatilho a mais pra pensamentos suicidas, ou aumento de ansiedade, o que ia colidir com os sintomas depressivos que eu sinto normalmente e meus medicamentos previnem. Atualmente eu tenho tentado aceitar que só consigo dormir com medicamento, é péssimo ter que depender de algo/alguém pra realizar uma necessidade básica, mas as terapias têm me ajudado: consiste em pensar que, se há uma forma de obter ajuda pra você dormir, você tem sorte por isso. Seria pior se não tivesse nenhum tipo de remédio que pudesse ajudar você a dormir, assim como em alguns séculos atrás não tinham sedativos ou insulina, por exemplo. Paciência, né?!
Como boa depressiva e line que sou, as vezes eu só consigo ficar deitada e olhar pro teto, e não pensar em nada. Provavelmente isso também esteja acontecendo com alguém que não tenha nenhum problema psicológico como eu, e sim, isso é normal. Essa loucura que está sendo viver essa pandemia tem mexido com os nervos que poucos ainda tem, a sanidade de alguns está sendo testada e quem toma remédios, eles estão mais que tudo nesse mundo sendo bem mais que suficientes, tipo eu :) As vezes as pessoas pensam ou enchem a boca pra dizer que "esse é o momento pra você fazer coisas diferentes, como ler/pintar/costurar/aprender uma nova língua/fazer cursos/fazer faxina/etc", mas poxa, tem gente que não é assim! As vezes a gente só quer tentar processar o que tá acontecendo e ponto! E tudo bem. A sociedade é tão padrãozinho que acha que de tudo você tem que se reinventar uma pessoa otimista, sair um bilíngue, decorar N livros, aprender a fazer yoga, testar sua paciência com os vizinhos brigões... Não gente, ninguém é obrigado a isso não, infelizmente eu tenho que dizer isso. Uma coisa que o brasileiro não sabe, além de lutar contra a desigualdade, é a respeitar a diferença das pessoas e talvez esse fosse um dos momentos que essa compreensão pudesse ser trabalhada, mas duvido um pouco.
Por isso, a solitude tem sido minha melhor amiga nos últimos dias. Eu me sinto bem sozinha em casa. Eu lembro que minha mãe insistia muito pra eu sair de casa, mesmo que fosse só pra ir na praça de alimentação do shopping tomar um suco e ver gente circulando, mas eu não fazia isso porque era algo contra minha própria vontade. Se tem uma coisa que tem acontecido nos últimos anos comigo é que eu tenho aprendido a respeitar meus sentimentos, minhas vontades, meu corpo, meu bem-estar. E hoje eu agradeço por não ter obedecido minha mãe, por ter ficado em casa quando eu mais quis ficar, porque hoje faz a diferença, por eu não estar sofrendo tanto com vontade de bater perna na rua como muitas pessoas estão. Tenho notado alguns cabelos brancos nascendo na minha cabeça, as vezes acho que é só minha velhice brotando mesmo, as vezes acho que é meu stress brotando kk é um monte de coisa brotando ao mesmo tempo né?! Deve ser algo coletivo, tipo uma histeria. Semana passada eu fui na farmácia comprar remédio pra dor de cabeça e descobri que não tô engordando como achava que estava, pelo contrário, estabilizei meu peso normal, o que não me deixa em paz e compulsiva por comida são as aulas EaD e o temido TCC, o lexotan que me ajuda nisso, juntamente com os chás e as pipocas.
Já não tenho mais tanto gosto pra TV. Antes ligava pra saber sobre notícias do mundo lá fora, mas até saber sobre minha própria cidade/estado tem me deixado triste. Desligo tudo, fica só a luzinha vermelha. O clima tem variado e as vezes meu nariz reclama, minha garganta arranha e eu vejo tudo isso pela minha janela, assim como as crianças brincando no condomínio ao lado vestindo pijamas, a vizinha brigando com os filhos no andar debaixo, o cara da água vindo deixar galões e mais galões de água todos os dias. Com as pessoas em casa, o consumo de água potável aumentou, os gastos com certeza também aumentaram, mas o que podemos fazer? Nada, apenas digerir o que tem acontecido. Tudo tem sido uma relação de causa e efeito: o ser humano fez, o ser humano tá recebendo. E se fosse uma guerra ao invés de pandemia, a gente ia suportar? Tiros, bombas, invasões de residências, mortos pela calçada, dentro de casa, prédios destruídos, em ruínas, serviços essenciais em colapso e os hospitais sem dar conta de gente ferido? O que nós preferimos?
Não, isso não seria um sonho.
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