Dia dos namorados 2k20
Ela tava tão simples como nunca tinha visto e eu, com vergonha mas ao mesmo tempo com aquele desejo de pegar ela pelos braços e tomar o corpo dela nos meus, pra gente ficar colado um no outro e o tempo parar...
Nunca tive aquela moral toda com mulheres, afinal não tive tantos momentos com elas, sou daqueles que mentalizo um sentimento levado a sério, mesmo que o mundo em peso goste de beijar mais de uma boca por noite num rolê de carnaval ou data comemorativa que tenha festa ao ar livre. E amigas, eu sempre tive; admirá-las por serem guerreiras e perseguidoras dos seus sonhos foi o que costumei fazer mesmo que em silêncio. Por mim, as abraçaria toda semana, pra se sentirem cada vez mais incentivadas a seguir em frente, mesmo que um ser do mesmo gênero que o meu tente as rebaixar ou difamar em frente a sociedade.
Eu e ela conversávamos vez ou outra sobre um assunto qualquer, as vezes durava ou as vezes não, é normal né?! Amigos de verdade conversam e nem sempre precisa ser todo dia, retomam uma conversa como se não tivessem parado, sem ressentimentos por ter feito isso, porque entendem a vida e os afazeres um do outro (ou devia ser assim). Um dia desses a gente combinou de se encontrar pra passar o tempo e eu achei que não ia dar em nada, até que deu. Nós nos encontramos.
Fiquei meio sem ação, confesso, porque eu sou meio tímido e que droga kkk porque ela parecia tão espontânea, tão empolgada e falante. Prestava atenção em tudo que eu falava, mesmo que eu não conseguisse olhar nos olhos dela direito e mesmo assim não veio com indagações. Compreensiva. Conversamos um bocado, mas aqueles bocados sobre tudo e mais um pouco, quando você não combina exatamente sobre o que falar e rola fofoca de gente que conhecemos em comum, assuntos em comum, filmes e séries, músicas, trabalho acumulado e até faculdade. Eu me senti em paz mesmo que tivesse que enfrentar um furacão nos próximos dias.
Essa semana foi um porre (quem dera se fosse de cachaça). As pessoas estão bem empolgadas pra voltar à ativa, pro "espírito centro" de comprar, de olhar as coisas, de movimento, de lotar ônibus, metrô e de engarrafamentos, é claro. Eu tô envolvido nessa, minha rotina vai voltar e a dela também, provavelmente, mesmo que ela não trabalhe como eu; pelo que entendi, ela vai procurar uma forma de trabalho quando as coisas retornarem ao "normal". A verdade é que nada vai ser como era antes, assim como eu, como minha forma de ver as situações que são banalizadas pelos seres humanos. Minha mente é diferente e as vezes me sinto estranho por isso, contudo isso não quer dizer que eu perca a esperança de dias melhores. E o dia que nos encontramos foi um dia melhor.
Não contava de ir até a casa dela, porque já estava tarde, mas fui justamente por estar longe de casa e perto da dela. Ela é gentil, talvez seja algo que venha com a educação dela desde a infância mas é algo que me deixa confortável e chegar na casa dela junto, me deixou íntimo, acolhido. Pediu pra eu limpar os sapatos antes de entrar, me ofereceu água e sorriu de um jeito engraçado quando disse que água é a única certeza do que se tem na geladeira de alguém que mora sozinho kk não tinha nada demais, até o meu olhar cruzar com o dela quando fui entregar o copo. Sei lá, senti uma palpitação diferente no coração, mas não achei convincente dizer no momento. Só que a gente não parou de se olhar depois disso, ninguém falou mais nada, eu só ouvia o pinga-pinga de uma torneira que ficava na pia perto da máquina de lavar. Olhos nos olhos e o som da respiração da gente.
Não parecia aqueles encontros casuais, que é tudo robótico e tem hora pra acontecer, a intenção de acontecer. Ela tava tão simples como nunca tinha visto e eu, com vergonha mas ao mesmo tempo com aquele desejo de pegar ela pelos braços e tomar o corpo dela nos meus, pra gente ficar colado um no outro e o tempo parar. E foi praticamente o que aconteceu.
Eu colei o nariz no dela e foi divertido, porque ninguém sabia o que fazer e nos abraçamos como eu quis. Ela perguntou se podia me apertar, visto que eu não sou muito de falar sobre o que quero (sou tímido, uai) e nos apertamos. O cheiro que ela emanava passou pras minhas roupas e meu coração acelerou, até eu ter atrevimento de beijá-la. Ela me retribuiu e senti que isso não vai mudar nossa amizade, mais que isso, senti mais vontade de abraçá-la, mesmo já estando abraçado.
Foi um dia dos namorados inesperado, acho que pra nós dois. Eu dormi na casa dela, nada mais aconteceu além do beijo quente e abraço caloroso que tivemos. Ainda conversamos mais e logo ela me cedeu a cama e foi pra sala dormir. Dia dos namorados inesperadamente com alguém que não é minha namorada, mas bem que podia ser.
Bendita data consumista, bendito caos que chegará na minha vida.
Assinado, Joice.
(Sim, eu também escrevo em outros gêneros ^^)
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