Essa é uma carta aberta...
... à todos os caras que eu tentei fazer amizade e acabaram se distanciando, sem nenhum aviso prévio, sem nenhuma explicação, fazendo eu me sentir meio idiota comigo mesma.
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Hoje eu vou contar a história
de uma menininha que adorava brincar com seus amiguinhos na hora do recreio,
mas amiguinhos meninos, não meninas. O nome dela é Joice. Acompanhei a vida
escolar da Joice todinha, mesmo que ela não percebesse e desde a creche, ela
tinha mais facilidade de fazer amizades com meninos. Isso as professoras nunca
conseguiram explicar. Até aí tudo bem né.
Voamos para o ensino Fundamental
I e lá aconteceu a mesma coisa, ela tinha uma turminha composta por 4 amigos e
lembro que um dia eles 5 foram pra trás da escola ver uma cachorrinha com seus
filhotinhos e a mãe dela não ficou nada feliz com isso, proibiu ela de sair da
escola na hora do recreio. A mãe dela era coordenadora do colégio e sempre foi
regra da casa ser exemplar na escola, então não podia se meter em confusão, nem
quebrar regras. Na 4ª série, a professora dela levou uma atividade de
competição pra aula, onde ia ser decidido quem seria líder da sala. Formaram-se
2 grupos, do lado tinham quase todas as meninas e do outro lado, os meninos e a
Joice.
No Fundamental II as coisas
foram ficando mais puxadas, ela ainda tinha amigos mas também tinha poucas
amigas, nada que fosse tão extravagante, um círculo de grandes amizades
femininas, porque ela nunca foi disso. Até que um dia ela teve que trocar de
escola e lá as pessoas não olhavam muito bem pra ela. Conseguiu arrumar algumas
amizades com uma bola de meia, porque os colegas de sala brincavam de carimba
na hora do recreio e vez ou outra perdiam a bola. É, ela foi inteligente pra
levar uma bola e dizer que tinha uma, pra jogar também, foi assim que ela fez
amizade mais uma vez com um menino e umas 3 meninas. Depois, mais alguns
meninos e as meninas eram sempre de fofoca, coisas que a Joice não gostava de
fazer. A turma seguiu quase a mesma até o ensino médio e as amizades masculinas
da Joice sempre seguindo ela, enfim concluindo essa etapa dos estudos.
Com o passar dos anos, a
maioria das vezes que a Joice tentava amizades com meninos, ela começava bem,
mas depois eles acabavam entendendo tudo errado ou já tinham intenção de alguma
coisa a mais e não diziam. No final não existia amizade nenhuma, era só
interesse momentâneo, e a Joice ficava literalmente na merda.
Isso fez com que a Joice
pensasse sempre com mais cautela sobre quais pessoas ela queria ter um vínculo
de amizade, com quem ela podia realmente contar, com quem ela poderia desabafar
quando estivesse se sentindo triste, já que onde ela morava não tinha ajuda
médica pros problemas depressivos dela. Em resumo, a maioria das vezes, ela
preferia ficar sozinha com ela mesma, pensando consigo mesma, distante de
qualquer pessoa que ela achasse uma ameaça, porque todo mundo que procurava ela
(inclusive no ensino médio) estava interessado em algo que ela tinha, que ela
podia dar. Quer um exemplo? A Joice chegou a escrever cartas pro namorado das
amigas quando elas não tinham saco pra escrever pra eles, porque ela tinha
inspiração pra isso, mesmo não namorando... Até hoje ela gosta de escrever.
Quando a Joice mudou de cidade, ela conseguiu ter acesso a cuidados psicológicos e um dia ela questionou o terapeuta o porquê de ela ter mais facilidade de lidar com homens em questão de conversas, amizades e todos os derivados disso. Ele disse que pode ser algo que vem desde a infância, como a vontade de ter um irmão. E sim, Joice sempre quis ter um irmão, fosse ele mais velho ou mais novo, mas não teve. Ela teve uma irmã e elas não costumam se dar tão bem, são o lado oposto uma da outra e acho que ela não se importa muito com isso, contanto que não a atinja negativamente. Joice hoje tem um irmão que a adotou, porque ela disse pra ele que tinha muita vontade de ter um e ele cuida dela como se fosse um irmão de sangue cuidaria, acho isso muito fofo :3
Talvez você não veja tanto sentido em eu contar essa história toda, mas na verdade, essa é uma carta aberta a todos os caras que tentei fazer amizade e acabaram se distanciando, sem nenhum aviso prévio, sem nenhuma explicação, fazendo eu me sentir meio idiota comigo mesma. Eu, Joice, não costumo chegar a ter contato com um rapaz somente com a intenção além de uma amizade. Eu não sou natural de onde moro atualmente, tenho poucos amigos e sei que formar uma nova família aqui seria bom pra mim, é o que tento fazer com minhas amizades! Entretanto, acho que não são todos os caras que estão dispostos a entender as coisas dessa forma. Pra maioria deles, a mulher que é simpática, que tem iniciativa de conversar, que quer ser amiga, tem sempre a pretensão de um algo mais. Generalizando um pouco, eles pensam que nós mulheres somos como eles são! E eu peço minhas sinceras desculpas a todos vocês, rapazes que eu tentei ser amiga e vocês me acharam invasiva, ou grudenta, ou enchendo seu saco com conversa que nenhuma outra mulher tenha tido com você antes. Eu me vejo no total direito de ser diferente, ao mesmo tempo que me vejo no direito de escolher quem eu quero como amigo e a partir do momento que o cara se distancia, some do nada, deixa de responder minhas mensagens, me ignora de alguma forma achando que eu estava interessada em nele, em ficar com ele, em pegar ele ou me apegar a ele sentimentalmente, ele pode ter pensado bem errado. E isso me chateia, porque me sinto fracassada comigo mesma e não, não estou culpando ninguém, acho mesmo que a culpa é minha. As formas de agir de hoje são bem diferentes das de 10 anos atrás, de quando eu era uma reles adolescente no ensino médio e acho que sinto falta dessa simplicidade de antigamente. Os relacionamentos líquidos também afetam as amizades, a conclusão é praticamente essa e eu continuo gostando de ter amigos homens, então quero agradecer ao Lucas Bezerra, Ronaldo Moura e Domingos Matos que são meus amigos homens que decidiram ficar na minha vida! Há mais de anos mantemos nosso vínculo e não tiveram o trabalho de me aceitar, seja pra rachar uma conta, pra ter uma visita no meio da noite, pra oferecer uma casa pra dormir, pra ir me pegar no hospital, pra ouvir meus lamentos e me dar bom dia quando nem minha mãe tem tempo de falar comigo. Eu amo ser amiga de vocês e torço sempre pela felicidade de vocês, que nossa amizade se estenda por muitos anos mais.
Eu sei que outras mulheres sofrem isso, eu sinto muito por cada uma. Espero que tenhamos mais sorte.
Assinado, Joice.
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