Longe de você...

... eu sei que continuo sendo a Joice, mas contigo eu poderia ser bem mais. Ser nós dois.
Os traços do cotidiano vão cansando o corpo físico, a mente e a alma. Mas ter uma companhia nos deixa mais forte. Eu sei que é difícil as pessoas admitirem isso, até ouvir isso de mim talvez seja estranho porque ultimamente eu tenho tentado ser autossuficiente. Contudo, quando a gente compartilha a vida, ela se torna mais leve, independente com quem seja. Tá, não pode ser qualquer pessoa (óbvio), sim alguém que saiba a hora de voar e a hora de pôr os pés no chão.
Enquanto isso não é possível, estou longe de você...
Longe de você parece que eu estou sozinha, mas sei que não. Eu posso ter suas mensagens e consigo ouvir você falando quando as leio. Você se torna mais real do que os meus vizinhos quando alteram a voz num momento de briga. É real.
O que é o contato físico, quando eu posso ter horas e horas de diálogo contigo, onde fazemos nos entender a cada dia, a cada minuto que passa, e do nada o tempo passa sem que possamos perceber e chega a hora de dormir? 
Longe de você eu vou construindo o que a vida me proporciona construir: contato com outros professores que podem vir a ser meus colegas de trabalho, partilhas com meus colegas de bolsa, aprendizado nas disciplinas da graduação, leitura de artigos, passeio com minha cachorra, mudança na minha alimentação. Parece que não muda nada não ter você, mas o que eu penso é como tudo flui melhor quando tenho você.
Alguns anos atrás, quase uma década talvez, eu poderia pensar que ter alguém era essencial na minha vida. A presença dela nos meus dias, aquele frio na barriga quando vai chegando a hora de vê-la, sentir o cheiro e o quentinho do abraço e as lamentações de quando havia despedida. Aquele pensamento ingênuo foi se deteriorando, ou melhor falando, amadurecendo, porque a realidade chega para todos, o que não se pode determinar é o tempo que ela vai chegar. E talvez não seja IMPORTANTE ter alguém, mas sim PRAZEROSO, melhor...
Longe de você eu sei que posso ser admirada, desejada e até requisitada, mas isso não importa muito quando meu foco é outro, quando eu tenho conhecimento de que o que importa pra mim é ter algo saudável, harmônico, com uma pincelada de carinho e cuidado partindo de uma caneta preta no papel. E suas palavras expressas numa folha.
Longe de você, o que é a distância? Algo que pode me provar que quilômetros podem se encurtar de diversas formas. Lembro quando meu amigo me disse que voar pela primeira vez ia me fazer enxergar que o mundo pode ser meu, mas talvez eu não queira tanto, só algo singelo, como seu sorriso no meu campo de visão. 
Longe de você eu não estou tão longe assim. Apesar de não poder te abraçar, vou descobrindo coisas minhas que eu desconhecia, que eu até conhecia mas não levava tão a sério; vou tendo minhas dificuldades diárias, tentando melhorar minha saúde e me manter viva até o nosso próximo encontro. E você está em todos esses passos, mesmo que não saiba, porque meu pensamento está em você.
Longe de você eu sou a Joice, a Joi, a tia Joice, a professora Joice, a mãe da Tetê, uma pessoa capaz de muitas coisas, um ser humano que nem sempre é forte mas que segue tentando ser, que adora música, ama escrever, tem um apreço enorme pelos primeiros alunos, um carinho enorme pela primeira escola em que teve experiência e um indivíduo cheio de pensamentos, planos e uma passagem comprada pra fugir do caos, pra encontrar a paz.
Mas contigo eu poderia ser mais e mesmo sem querer, eu já sou. Em algum lugar, somos nós dois, não sei quando, mas sei que somos. E isso me deixa muito contente. 
A gente logo se vê. Até :)

Assinado, Joice.

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