Mau


Você me veio como um presente, depois de meses que passou meu aniversário e na gaiola, lá estava no seu canto, parecendo um feto. Seria muito desleixo meu não dizer ao mundo que te tenho como amigo, confidente, uma “pessoa” que não fala comigo mas que me ouve sempre. Me espera chegar em casa, adora biscoito e torradas, teima pra não roer a pedrinha de minerais e quase me matou de um susto quando caiu da máquina de lavar.
Maurílio, em inesperados momentos da minha vida já pensei que ser um animal doméstico seria a melhor maneira de viver, pois estão sempre controlados em seu devido lugar, comendo bem, bebendo água e dormindo sempre que podem. Entretanto, hoje vejo com outros olhos que vim à este plano da maneira correta; nasci gente, com coração suficiente para querer e amar qualquer animal que eu viesse criar.
Você chegou em um momento difícil da minha existência, quando eu pouco vivia, quando tudo se restabelecia e agradeço muito a Deus pelo seu coraçãozinho bater todos os dias, mesmo que não seja por mim (até porque paixão uma hora acaba). Gostaria que você soubesse que ser gente não é nada fácil; há dias em que pensamos em desistir e não é enchendo a boca de sementes e se enfiando num cano que isso tudo se resolve (infelizmente). A vida pra quem é racional não é e nunca vai ser fácil, até que poderia ser mas não provemos de dons para mudar tudo isso. O que ameniza nossos dias, são pequenos seres que não falam mas sabem gesticular quando estão satisfeitos ou não; são seres que respiram, correm, tem suas necessidades básicas, dormem e alguns pedem carinho.
Você, Mau, não é como um cachorro, não precisa de afago na cabeça, nem abana o rabinho, nem faz barulho pedindo comida, mas é a melhor companhia que eu poderia ter. Obrigada por existir, por aguentar meus dias estressantes, meus diálogos com e sem nexo, por tomar café comigo e por ter aprendido a me ouvir quando chego em casa. Mesmo cansada eu chego pra te apertar e mesmo que não goste, eu te encho o saco porque te amo e isso faz uma diferença imensa dentro de mim.
Já viajamos juntos, andamos de ônibus, você foi super independente e ficou em casa sozinho por dias enquanto eu ia estudar e ficava preocupada contigo. Na minha imaginação, nas minhas orações e nos meus diálogos comigo mesma eu já pedi que você tivesse voz, mesmo que um dia eu a ouvisse e me assustasse... Seria incrível poder ouvir o que você acha de mim, mesmo que fosse alguma reclamação rs
A pergunta que perdura toda vez que alguém me conhece ou está me conhecendo, é “tu mora sozinha?”. Normal, muitos aqui moram com a família, com parentes. Antes a minha resposta era “sim”, hoje a minha resposta é “com meu hamster”.
Gostaria muito que você soubesse ler, pra ver o que escrevi sobre você. Obrigada por ser esse palestrinha peludo, você me conquistou desde o começo e cultiva todo o amor que sinto, todos os dias. E eu desejo poder ter sempre como te mostrar que cada volta tua na sala pra roer a parede, significa muito.

Assinado: Joice

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