Ausência

Essa palavra passou pela minha cabeça tantas vezes essa semana, semana passada, semana antepassada...
Me ausentar do mundo externo nunca foi trabalho pra mim, porque graças a Deus e todas as forças superiores eu tenho tudo que pode me sustentar dentro de casa. As coisas que me fazem bem como internet, livros, filmes, músicas, acesso à conteúdos para estudar,
Tantos dias longe da terapia tem me feito pensar mais sobre isso. Não quero responsabilizar minha terapeuta, mas meu plano de saúde é uma droga e coincidências tem acontecido, como por exemplo a pobrezinha ficar doente logo quando eu tenho consulta marcada com ela. Ou seja, não sou só eu que tô sofrendo com essa falta de terapia, existem outros pacientes dela que devem estar se lamentando ou sofrendo com a mente conturbada, medo, desespero, tristeza e vazio. Coisas que eu também sinto normalmente quando tô longe do acesso à terapia. Enfim, não temos um plano de saúde empático por aqui.
Semana passada consegui fazer o "impossível": me desapegar de pessoas que, uma eu achava que podia fazer parte da minha vida e a outra que eu não sentia necessidade de manter contato, mas estava de certa forma "forçando" uma tentativa de dar certo. Mas acredite, quando você faz algo fora da sua capacidade afetiva, sentimental e até mesmo racional, fica complicado demais de lidar com isso. Para minha tranquilidade e para respirar melhor, eu desapeguei. O que mais dói em mim, é que essa não foi a primeira vez que tive que fazer isso com alguém que possivelmente gostava de mim e também sinto que não vai ser a última vez. Domingo eu e meu ex nos falamos, coisas praticamente triviais como nossos pets estão, como a vida anda e ele soltou aquela de "continuo sempre disponivel pra conversar com vc", "é bom ouvir como a tua vida ta" e o inusitado "ia perguntar se não ta afim de sair falar da vida mas acho que seria estranho". Sim, isso seria estranho, principalmente porque eu tenho como regra minha de não manter amizades com ex-namorados, independente se o término foi amigável ou não. Fiquei pensando na proposta dele e tal, falando com uma amiga ela me disse que ele vai ter sempre um sentimento carinhoso por mim (fico pensando se ele é masoquista porque ele ficou MUITO sentido quando eu pedi pra ele sair da minha casa e, logo mais, disse que não dava mais pra seguir com o relacionamento), mas não vejo isso como uma coisa boa.
Eu realmente vejo que tem momentos que me sinto bem me distanciando do mundo. Quando terminei o relacionamento com esse ex, a minha maior vontade era me isolar do mundo, nunca mais (ou pelo menos por um mês) sair de casa e não ter contato com mais ninguém, mas a Ártemis é minha responsabilidade e eu não deixaria ela sem passeio de forma alguma, como já fui muitas vezes à força porque ela é praticamente minha vida, ela que faz eu me mexer, seja fisicamente ou mentalmente. E ela não merece ser reflexo dos meus pesadelos, faltas de vontade ou acomodação.
O que eu tenho consciência desde os meus 15 anos, é que minha alma não é uma alma jovem, parece que eu pulei de fase mesmo que eu não quisesse e tenho essa sensação de ser velha, comportamentos antigos como escrever cartas pras pessoas, me declarar amorosamente ou pra amigos, chorar muitas vezes sem quaisquer tipos de vergonha, em qualquer lugar e saber disfarçar bem isso (eu sou muito expert nisso). A depressão sempre me fez ter e criar máscaras para disfarçar meus maus momentos, não sei se isso é uma coisa boa ou ruim, mas muitas pessoas não percebiam o quanto eu estava mal, só quando eu realmente não aguentava mais e o humor se transforma. É um momento infeliz, principalmente quando acontece num momento errado e com a pessoa errada. Sinto muito por ter algo que não é do meu controle, se pudesse, eu seria uma pessoa normal, como qualquer outra. Não gosto de pensar que eu sou "especial" ou "única" por causa da depressão ou do transtorno de borderline. Eu sei que tudo tem seu lado bom ou ruim, mas o ruim surge quando menos espero, apesar de ter a depressão bem controlada e tratada. 
Entre tantos momentos de aproximação e distanciamento de pessoas, em momentos oportunos e inoportunos, eu aprendi a ter paciência, ser resiliente, altruísta e compreensiva. Ouvir mais as pessoas é melhor do que falar mas as vezes acabo falando mais do que devia. Só me restam lembranças para contar, porque ultimamente não tem acontecido nada de diferente ou interessante comigo além da minha doença, a correria pra ter consultas médicas, tomar remédios, fazer exames e fazer minhas preces pra que tudo dê certo e não seja nada grave que exija cirurgia. Mas se ela vier, ok, terei mais uma cicatriz e vou enfrentar tudo com a mesma fé de 8 anos atrás.
No geral, eu só queria não ter que me ausentar tanto da vida, de momentos felizes, de momentoss em que eu poderia causar alegria a alguém, companhia, acrescentar alegria a alguém, mas sinto que ultimamente não tenho feito isso e isso me deixa mal. Quando eu faço mal a alguém, eu sinto esse mal em dobro, talvez isso faça parte da minha missão aqui na Terra, ou faça só parte do processo. Acho que fiz isso com o Satoru ontem, gostaria de pedir desculpas e dizer que ter borderline não é fácil, eu achava horrível ter que falar esse nome tão esquisito e principalmente ver que engloba tantos sintomas adversos, difíceis de designar quando se está acontecendo, mas saber que eles podem acontecer já ajuda. É uma pena que ainda existam pessoas que não são tão receptivas pra isso, inclusive a própria pessoa que tem o transtorno, contudo, como uma pessoa "normal", eu tive que me conscientizar que vou ter que viver com isso pelo resto da vida e consequentemente, terapia pro resto da vida. Pensar, pensar muito, ter os pés no chão e pensar na forma de agir que não venha ferir outra pesosa, principalmente alguém que você quer na sua vida.
Desculpa Satoru, eu sou assim e não posso evitar. Não sei se vamos nos distanciar, mas você é especial, é uma pessoa que faz diferença na vida de quem o conhece e gostaria de continuar tendo sua amizade, ir ao cinema com você (definitivamente, tá?!). E sobre me ausentar do resto do mundo, continuo com essa vontade, mesmo que Satoru volte a falar comigo. O medo sempre fez parte da minha vida, fosse de fazer o que eu sei fazer, fosse aprender algo novo e falhar. Esse medo aperta meu coração como uma pessoa amassa uma latinha de refrigerante no chão e não sei como ajustá-lo novamente para que tudo possa começar do início. Mas como o sopro da vida me dá uma nova chance a cada dia que eu acordo, sigo tentando ser o meu melhor, o melhor que eu posso ser para as pessoas que passam pela minha vida, e dando o melhor que posso para concluir algum tipo de tarefa ou missão que me é dada.
No mais, eu só queria poder não existir em alguns momentos, me ausentar e que meus pensamentos se calassem um pouco, porque eles não vêem só os dois lados da moeda, porque na minha cabeça a moeda não tem só dois lados.

Obs: Minha boca tá ressecada de tomar tanto remédio. E já foram comprados mais alguns diferentes. E a fisioterapia começa semana que vem (amém!).

Assinado, Joice.






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